Mostrando postagens com marcador Artigo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artigo. Mostrar todas as postagens

17 de fev. de 2013

Modern heroines: Hermione, Bella & Katniss (Femnista) IV

Uma análise das heroínas literárias atuais. Não concordo muito com o fato de Bella aparecer, prefiria Lyra ou outra, mas a análise da personagem é pertinente. Também gostaria que a autora tivesse falado mais sobre Katniss. Publicado na edição de Maio-Junho de 2012, época do lançamento de Jogos Vorazes.

Heroínas modernas: Hermione, Bella e Katniss (Modern heroines: Hermione, Bella & Katniss)
Autora (Author): Charity Bishop.

As mulheres na ficção têm mudado de acordo com o tempo para refletir a sociedade. Nos tempos modernos, nossas heroínas refletem três aspectos diferentes de feminilidade: Hermione é intelectual, Bella é a dona de casa e Katniss é a guerreira.
A escritora mais proeminente de ficção é J.K. Rowling. Seus livros apresentam uma variedade única de mulheres. Enquanto o personagem principal é masculino, o foco sublinhado está na maternidade, na figura de Lily Potter, Molly Weasley, Narcisa Malfoy e Ninfadora Tonks. A professora McGonagall também assume um papel maternal para os estudantes de Hogwarts.
Dentre as mais jovens heroínas estão as maiores mulheres literárias: Gina é esperta e engraçada, Luna é extravagante e peculiar e Hermione é racional e inteligente. Ela é uma devoradora de livros, a queridinha dos professores, a garota que Rony e Harry não querem como amiga até um acidente com um troll mudar sua opinião. Hermione se inteira de tudo muito rápido, aparece com as soluções para a maioria dos problemas, é teimosa, leal e não tem medo de ser vista como inteligente.
As mulheres de Rowling são diferentes entre si, mas igualmente fortes de suas próprias maneiras. Romance não é seu objetivo principal, nem seu maior sucesso. É diferente da série de Stephenie Meyer, Crepúsculo. Ela também explora o tema da maternidade. Bella não está interessada em casamento (graças ao divórcio dos pais) ou em filhos no começo, mas quando engravida durante sua lua de mel, ela logo descobre o quanto quer ser mãe. Ela decide ter o filho mesmo que sua saúde corra perigo. Através desta escolha, pelo menos nós começamos a entender Rosalie, que tem tratado Bella mal até agora. Rosalie não queria se tornar vampira porque significaria abrir mão do que ela mais queria: ser mãe. O filho de Bella as torna aliadas.
Bella é controversa, uma vez que ela conflita com a heroína moderna usual em seus status de dona de casa; ela é feliz cozinhando para seu pai e sua ambição é passar o resto da vida com o homem que ama. Isso é suficiente para satisfazê-la; ela não pede mais nada. Eventualmente, ela deixa de lado seu feminismo e partilha das idéias antiquadas e fora de moda de Edward. Isso mostra uma definição mais bíblica de feminilidade (submissa, mas não fraca) que muita ficção, assim como reflete o profundo anseio interior de muitos corações femininos de serem amados, estimados, cuidados. Bella é feminina, mas não é fraca; ela erra e paga por seus erros, mas no final, muito parecido com Hermione, ela encontra a felicidade em ser mãe e esposa.
No mundo de Meyer, o amor é a força motora da vida. Ele junta Edward e Bella e acalma o desejo por sangue. Esta abordagem é diferente da de Rowling; enquanto ela criou fortes personagens e as fez mulheres, Meyer criou primeiro as mulheres e só então lhes deu força. Alice é formidável, mas adora fazer compras. Bella arrisca a vida por seus amigos, mas fica feliz em cozinhar para eles.
Em um mundo onde nos é dito que ser feminista significa abrir mão de ser mãe, e não fazem distinção entre homens e mulheres, não é surpresa que jovens leitores gostem de uma série onde a heroína possa ser “somente uma garota”. A sociedade nos diz que não é suficiente ser esposa e mãe, mas que nós devemos ter aspirações maiores. Isso deixa aquelas que querem ser mães e esposas sentindo como se seus sonhos fossem menos importantes que aquelas que querem uma carreira ao invés da primeira opção.
Em contraste com Bella e Hermione, está a heroína de Jogos Vorazes, Katniss. A garota com jeito de menino que caça como meio de alimentação, ela assumiu o papel de protetora da família na ausência do pai. Ela não tem interesse em romance e tem que matar para garantir a própria sobrevivência. Katniss tem um instinto básico de maternidade; o que faz com que ela cuide de sua irmã e de Rue. Ainda que sua reação primária deva ser se defender e proteger, ela deixa de lado seus sentimentos pessoais para fazer o que tem que ser feito. Ela é a mais “não feminina” das heroínas modernas simplesmente porque as circunstâncias a forçaram a assumir um papel masculino, mas isso não significa que ela não seja uma garota, que não ame os lindos vestidos que lhe são dados, ou secretamente não deseje se sentir segura. Ela abandona seus sentimentos porque deve fazer isso; ela não poderia sobreviver se não calasse seus instintos femininos básicos. Não significa que ela não os tenha, só significa que ela não pode deixá-los assumir o controle.
Katniss é uma força solitária contra o mundo. Ela não expressa muito seus pensamentos ou nos deixa entrar em sua mente. Ela é um ícone feminista moderno ideal. Ela não precisa de um homem em sua vida (ela fica bem com ou sem eles); de fato, ela pode tomar conta de si mesma e dos outros. Ela é inteligente e habilidosa, engenhosa e muitas vezes impiedosa, mas ainda tem um senso de compaixão. Nos Jogos Vorazes, o típico papel de gênero que nós esperamos ver é invertido: a garota é fria, emocionalmente limitada e não hesita em matar para comer ou sobreviver. Ela assumiu o lugar do pai como cabeça da família; o garoto (Peeta) é caloroso, sentimental, generoso e romântico. A procura dele por ela é tímida e insegura, mas ele está pronto para esperar.
Estas heroínas modernas atraem grupos de leitores totalmente diferentes. Para as garotas que querem ser mães e esposas, Bella lhes dá orgulho pelos seus sonhos e honra o papel de dona de casa como uma busca que vale a pena. Para devoradoras de livros queridinhas dos professores, Hermione mostra ser bom ser esperta e nos assegura que mesmo a sabe-tudo pode ter um final feliz. Para aquelas que sentem como se estivessem confrontadas pelo mundo, e devem dar seu jeito, e estão felizes em resistir aos papéis convencionais de gênero, Katniss as inspira a continuar lutando, a serem fortes e sonharem com coisas melhores.
Cada heroína diz muito sobre o que as autoras valorizam e aspiram, mas nossa reação também revela a verdade sobre nós. Quem é sua favorita? Por quê? O que ela diz sobre suas ambições, emoções e desejos mais profundos?

10 de fev. de 2013

And the greatest of these is love (Femnista) III

Um ótimo artigo que analisa a motivação maior de toda a história de Harry Potter. Publicado na edição de Halloween.

E o maior destes é o amor (And the greatest of these is love) 
Autora (Author): Charity Bishop.

Tentar descrever o meu carinho pela série de livros Harry Potter é impossível; a marca que deixou em mim é inegável e eu sou uma pessoa diferente hoje por causa disso. Apesar de existirem muitas mensagens poderosas em suas páginas, a mais forte é o amor em todas as formas... amizades que crescem e se fortalecem, o amor dos pais pelos filhos, e o amor romântico tanto verdadeiro e duradouro quanto fraco e minguante. O amor sobrevive, transcende, cresce e oferece salvação. É a redenção de Snape e a destruição de Lord Voldemort. Desde o início, o poder do amor é aparente quando Harry se pergunta como ele sobreviveu à maldição da morte que matou seus pais. Dumbledore revela que foi o sacrifício de sua mãe por ele que lhe permitiu viver. “Este tipo de amor deixa uma marca, Harry... que está na sua pele.” 
A Lily foi dada a escolha de salvar a si mesma e abandonar o filho, mas ela preferiu morrer e ao fazê-lo deu a Harry a proteção final. O simbolismo religioso de seu sacrifício fecha o ciclo no último livro, quando Harry percebe que para derrotar Lord Voldemort, ele deve primeiro morrer. Nesse momento, Harry está no controle das Relíquias da Morte, objetos poderosos que o tornam invencível: a Capa da Invisibilidade, a Pedra da Ressurreição e a Varinha das Varinhas. Mas para salvar o mundo do mal, Harry permite que Voldemort o mate. Na vida após a morte, a ele é dada a opção de continuar por toda a eternidade através de uma morte mais permanente ou voltar e lutar contra seu inimigo. Por causa do amor que ele tem pela humanidade, Harry decide voltar novamente e derrotar Voldemort. 
O amor é a única coisa que Lord Voldemort não entende e, como resultado, ele subestima o amor que Harry tem pelos seus amigos, os Malfoy tem por seu filho, e Snape tem por Lily Potter. Não só a morte dela salva Harry, ele faz Snape ficar contra o Lorde das Trevas, dando ao professor uma chance de redenção. 
Ao longo da série, o desprezo de Snape por Harry é aparente. Embora em última instância seja sacrificial em suas ações, Snape desforra o profundo ressentimento por James Potter em seu filho, perturbando-o em sala de aula, dando-lhe detenção e insultando seus amigos. A pessoa precisa imaginar o quanto de seu comportamento era genuíno ou forçado através de sua lealdade fingida para Voldemort. As verdadeiras motivações de Snape estão tão profundamente escondidas que mesmo Voldemort suspeita da verdade, mas ele é forçado a fazer coisas que odeia, a fim de obter sucesso em seu objetivo de permitir que Harry adquira força para eventualmente derrotar Voldemort. Ele consegue, mas não sem perder sua vida. Em um dos capítulos mais poderosos em toda a série, aprendemos a verdade sobre Snape e sua relação com a Lily. É uma história bonita e de partir o coração de amor abandonado; erros e escolhas que fazem a afeição dela por ele desaparecer conforme Snape segue o mal e James ganha Lily. A história mostra o verdadeiro coração de Snape, em seu egoísmo e culpa. 
Sua história de amor torna o resto pálido em comparação, mas encontramos exemplos de amor verdadeiro... na devoção de Fleur para Gui, apesar de sua lesão, no casamento de Tonks e Lupin, no contraste entre a atração de Harry e Cho e seus sentimentos por Gina, até mesmo em Hermione e Rony admitindo seus sentimentos um pelo outro. Mas no final, é o amor não romântico que nos impressiona: a amizade entre o Menino Que Sobreviveu, seu melhor amigo e a insuperável Sabe-Tudo sustenta Harry através dos momentos mais difíceis de sua vida. Em tempos bons e ruins, Hermione e Rony estão lá para ele, torcendo por ele e dando o apoio que ele precisa para amar o suficiente para sacrificar sua vida por eles e tornar-se digno de inspiração. 
É por causa de sua fé nele que Harry se transforma em um líder, um professor, e inspira personagens como Neville a encontrar coragem. No final, o amor é a força motriz em todas as suas vidas. O amor faz Dumbledore dar desafios a Harry para prepará-lo para o futuro. Molly mata Bellatrix por amor a sua filha e remorso pela perda de seu filho. O amor faz com que Narcisa traia Voldemort em troca de informações sobre o destino de seu filho. 
Rowling consegue atingir profundamente a alma de seu leitor e provocar uma grande variedade de emoções, de tanto rir das peripécias humorísticas às lágrimas de tristeza e gritos de indignação. Uma geração nasceu com suas filosofias sutis: ter coragem é encontrar força para ficar em suas convicções, o mal deve ser combatido a todo custo, existem algumas causas pelas quais vale a pena morrer, e o amor triunfa sobre tudo. Em seu mundo, do instante em que Harry é deixado nos degraus da casa de seus tios na rua dos Alfeneiros até quando ele envia seu filho mais jovem, Albus Severus Potter, para o trem para Hogwarts, nosso espírito está carregado de emoções, nosso coração está partido e remendado uma dúzia de vezes, e somos encorajados a lembrar que o amor redime... e que “o último inimigo a ser destruído é a morte.”

25 de jan. de 2013

Light and darkness: the men of The Hunger Games (Femnista) III

Quando eu ainda nem sabia dessa nova série... Um artigo publicado na edição de Setembro-Outubro de 2011. 

Luz e escuridão: os homens de Jogos Vorazes (Light and darkness: the men of The Hunger Games) 
Autora (Author): Rachel Sexton.

 Desde que a popularidade de Harry Potter cresceu absurdamente, a categoria de livros conhecidos como jovens adultos tem aumentado para tornar-se uma seção principal rentável do mercado. A série Crepúsculo foi um enorme sucesso e o número de livros destinados a leitores adolescentes tem crescido ainda mais recentemente. Romance de fantasia e paranormal permanece fixo neste tipo de escrita, mas outro gênero surgiu e cresceu em popularidade: o thriller distópico. O personagem principal normalmente enfrenta um governo opressivo futuro e deve lutar por suas vidas e as das pessoas que amam. Um dos primeiros exemplos do boom da ficção distópica é um dos mais adorados da crítica e em breve terá sua adaptação cinematográfica própria. A trilogia Jogos Vorazes conduz um desenvolvimento diferente de personagem em meio a uma trama de ritmo agitado e os personagens Peeta e Gale deixam uma impressão única e memorável.
Jogos Vorazes começa em um desolado futuro próximo onde os Estados Unidos entrou em colapso e foi substituído por uma nação conhecida como Panem. Neste lugar, uma opressiva Capital governa sobre 12 distritos separados. Para manter rebeliões controladas, cada distrito é forçado a enviar um menino e uma menina entre as idades de 12 e 18 para uma luta até a morte na televisão chamada Jogos Vorazes.
Katniss Everdeen é a personagem central que conta a história em primeira pessoa. Ela tem sido a provedora de sua família desde a morte de seu pai em um acidente de mineração que causou o colapso mental de sua mãe. Embora sua mãe tenha se recuperado o suficiente para retomar suas atividades de enfermagem, ela ainda não é capaz de ser a principal fornecedora. Katniss caça bem e consegue ajudar a família evitar a fome; ela também tem um parceiro de caça em Gale, um menino que perdeu o pai no mesmo acidente que matou o dela. Ele é seu melhor amigo e um companheiro de sobrevivência.
Quando Katniss tem 16 anos, a Colheita que escolhe os competidores para os Jogos no seu distrito (chamado de Tributos) chama o nome de Prim. Sem hesitar, Katniss toma o lugar de sua irmã. O tributo masculino acaba por ser Peeta, o filho do padeiro local, que tem a mesma idade de Katniss. Ela lembra que no momento mais sombrio depois da morte de seu pai, quando a família estava prestes a morrer de fome, Peeta arriscou a ira de sua mãe e propositadamente queimou dois pães para dar a Katniss quando ela estava fraca e caída perto de sua casa. Este é o estado de interação entre Katniss e a relação com cada personagem masculino quando a trilogia começa, mas muitas mudanças estão por vir.
Gale é apresentado primeiro, mas Peeta aparece mais na primeira parte da história. Embora o leitor fique com Katniss o tempo todo, Peeta está bem estabelecido antes do início dos jogos. Publicidade envolve todos os tributos, com cada um recebendo estilistas pessoais e entrevistas televisionadas antes de serem transportados para a arena. A entrevista é o momento em Peeta revela a característica central de sua natureza: o seu charme. Ele é natural diante de uma câmera.
Ele é agradável, talentoso em manter o tom perfeito ao responder perguntas. É neste momento em que a história romântica da série começa, pois Peeta admite em entrevista que ele tem sentimentos por Katniss.
Eu não vou estragar a ação dos jogos para você, mas o drama de vida ou morte nunca acaba. Ao mesmo tempo, Katniss tenta discernir se seus sentimentos por Peeta são reais. No início, o problema é que eles estão todos na arena para matar uns aos outros, mas depois da Capital ter anunciado que os tributos masculino e feminino do mesmo distrito poderiam ganhar juntos, Katniss concentra-se em fazê-los sair de lá vivos. Todos os tributos são orientados por vencedores passados do seu distrito, e o dela é um alcoólatra de meia-idade, Haymitch. Katniss percebe que ele, através do timing dos presentes enviados para a arena, está mostrando a ela que um romance entre ela e Peeta é a melhor maneira de colocar Panem do seu lado e levar ambos de volta para casa. Ela encontra Peeta e cuida de seu ferimento grave, o tempo todo se perguntando o quanto de sua ligação será real após os jogos, assumindo que eles sobrevivam.
A segunda parte, Em chamas, começa logo após sua volta ao Distrito 12 e o romance muda para um triângulo quando Gale demonstra seu interesse em Katniss com um beijo.
Neste livro, o maligno presidente Snow ameaça os entes queridos de Katniss, incluindo Gale, se ela e Peeta não lutarem como uma equipe e jogarem pelas regras. Gale já está mostrando tendências revolucionárias, e é ele quem informa Katniss que o lendário Distrito 13, que se levantou contra a Capital e provocou a criação dos jogos vorazes depois de ser derrotado, não pode ter sido dizimado depois de tudo. Esta é a característica que define Gale: ele é um lutador. Ele sobrevive da caça com Katniss e fala abertamente contra as restrições da Capital.
Enquanto ele aparece mais em Em chamas, Gale não deixa tão claro para o leitor seus sentimentos por Katniss como Peeta, o que torna a decisão de escolher entre os dois jovens difícil. Mas o que acontece depois diz muito sobre cada um deles e deve ajudar o público a decidir com quem a heroína deve ficar. A trama permanece focada na ação, mas estes dois protagonistas masculinos foram habilmente movidos para lados opostos de um triângulo amoroso com a heroína.
A última parte, Esperança, prova ser definidora para estes dois rapazes. A recuperação de Peeta após o resultado do Massacre Quaternário é muito complicada e demorada, mas ele está ao lado de Katniss e Gale no reduto rebelde do Distrito 13, quando a revolução contra a Capital atinge o seu auge e acompanha os rebeldes quando eles vão para a própria Capital para terminar a opressão de uma vez por todas.
Gale se beneficia poderosamente da maior parte da história neste último livro e vemos que a mente estratégica que lhe serve tão bem como um soldado pode ter um tom austero e frio que verdadeiramente o distingue de Peeta. Gale tem fogo, “aceso com raiva e ódio, mas Peeta representa o amarelo brilhante que significa renascimento em vez de destruição.”
A representação física de Gale e Peeta espelha a diferença entre eles – Peeta é loiro e de estatura mediana enquanto Gale é alto e moreno. Ambos são bonitos, algo que o filme sem dúvida explora. Os atores que interpretam Peeta e Gale foram escolhidos completamente de acordo com a descrição no romance de sua aparência: Peeta é interpretado por Josh Hutcherson e Liam Hemsworth é Gale. Agora, cabe a estes dois artistas retratar as diferentes personalidades desses personagens como eles são escritos.
Como a Capital diz aos seus tributos, que a sorte esteja ao seu lado.

18 de nov. de 2012

Passion & purity: Edward Rochester (Femnista) II

Um novo artigo publicado na webzine Femnista, de Setembro-Outubro de 2011, desta vez analisando um dos meus heróis literários favoritos: Edward Rochester.

Paixão e pureza: Edward Rochester (Passion & purity: Edward Rochester). 
Autora (Author): Charity Bishop

A literatura está cheia de homens maravilhosos e abnegados... e então há Edward Rochester, o sombrio anti-herói em Jane Eyre, de Charlotte Bronte. Mal-educado, grosseiro e mentiroso, ele encarna a definição do que as mulheres não devem querer em um homem, mas ainda assim somos levadas a ele. Ele é digno de nossa piedade e admiração ou devemos desprezá-lo por sua intenção de manipular Jane?
Para entender Edward é preciso lembrar a sua história, o que não dá desculpa para seu presente, mas concede-nos um olhar de sua alma. Quando jovem, ele cometeu alguns erros terríveis... particularmente foi forçado a casar com uma mulher que ele nunca havia encontrado antes para garantir a estabilidade financeira de seu pai. Edward logo descobriu que sua noiva era louca e, portanto, ficou preso em um casamento do qual não podia escapar. Quando a maioria dos homens teria colocado Bertha em um asilo, ele não poderia imaginar submetê-la a tais horrores (naqueles dias os habitantes de asilos eram tratados como pouco mais que animais ferozes) e fez arranjos permanentes para a sua estada em Thornfield sob os cuidados de uma enfermeira. Com sua fé na humanidade perdida e todas as chances de encontrar um amor e uma boa esposa cruelmente frustradas, Edward tornou-se resignado a uma existência maçante, sem sentido, entregando-se às coisas do mundo para preencher o vazio em sua vida. Mas a riqueza, a companhia de belas mulheres, e as viagens intermináveis não lhe concederam qualquer forma de felicidade duradoura. Ele se ressente de ter que cuidar de Adele, a filha de uma de suas amantes, cuja mãe abandonou-a aos seus cuidados, sob o pretexto de que a criança era dele. Ao invés de encontrar alegria na presença dela, ele a deixa em casa, continuando em suas viagens, e quando ele está presente, faz pouco mais que insultá-la. Edward chafurda em auto-piedade e miséria até a chegada de Jane, quando ele percebe que não pode estar além da redenção. Infelizmente, o seu estilo de vida anterior habituou-o a buscar o prazer sem se preocupar com as conseqüências, assim ele decide manipular Jane para que ela sinta ciúme de seu interesse fingido em Blanche Ingram, para que Jane possa experimentar alguns dos seus tormentos. Ele acredita erradamente que ao possuir Jane e sua bondade, vai encontrar a felicidade, nunca percebendo que tirando sua pureza tiraria a própria coisa que ele mais ama a respeito dela. Mesmo assim, por causa de sua moralidade, ele sabe que não pode reclamá-la através de meios tão flagrantes então ele recorre a mais mentiras na esperança de seduzi-la em um casamento que, de acordo com a lei, é falso.
A verdade é descoberta na manhã de seu casamento. Jane está profundamente magoada e apesar dos apelos chorosos de Edward, recusa-se a ficar em Thornfield como sua amante. Sua escolha em manter a sua fé e deixá-lo, apesar de seu amor por ele é o que o quebra ao ponto da redenção. Se ela tivesse escolhido ceder e sacrificar a sua virtude e princípios, eventualmente, ele teria odiado-a por ter abandonado suas crenças por causa dele. Sua culpa teria sido imensa, ele continuaria sentindo aversão a si próprio, ao mesmo tempo em que descobriria que a felicidade não pode prosperar em pecado.
A evidência da influência de Jane sobre ele torna-se aparente em suas ações para com Bertha quando ela coloca a casa em chamas. O Edward anterior cuidou dela por um senso detestado de dever e obrigação (a sua distância emocional de Adele é um bom exemplo disso) ao invés de qualquer verdadeira compaixão e ele não teria arriscado a sua vida na tentativa de resgatá-la. Ele poderia até mesmo ter visto a sua morte potencial como uma forma de libertação do seu atual estado infeliz. Mas porque Jane e seus princípios firmes fizeram-no aspirar a coisas maiores, embora a morte de Bertha significasse sua liberdade, ele vai para a casa em chamas atrás dela, perdendo a visão e o uso de uma mão no processo. O orgulhoso e ameaçador Rochester é reduzido a uma concha de sua antiga personalidade, um homem que agora deve depender da compaixão dos outros. Ele é ainda mais humilhado no retorno de Jane, quando ele descobre que ela não quer nada; suas experiências com seus primos a tornou financeiramente segura e auto-confiante. Jane sobreviveu a um coração partido e se tornou mais forte para ele. Ela já não precisa dele para preencher o vazio em sua vida, pois ela descobriu sua família. Nem ela precisa dele para atuar como seu protetor. Não mais uma governanta, Jane é em todos os sentidos sua igual. Ela escolhe voltar para ele não por necessidade, mas por sentir um amor genuíno por ele que transcende seu estado quebrado e permite que ela, finalmente, dê a ele a verdadeira felicidade.
Em muitos aspectos, o romance Jane Eyre é tanto uma história de fé quanto é um romance. Muitos tipos de fé estão representados nele, da crueldade da falsa crença na escola para a doçura de Helen, que ajuda Jane a entender que a obediência a Deus é mais do que evitar o inferno. Há St. John, cuja determinação em ser um missionário se opõe a qualquer forma de paixão física ou amor genuíno. E depois há a fé inabalável de Jane, que a proíbe de ser amante de Edward e traz sua redenção final. Embora no romance os temas do amor e da fé sejam inseparáveis, as adaptações da maioria dos filmes minimizam-nos tanto quanto possível e ao fazê-lo, fazem ao espectador um grave desserviço. Edward e Jane são mais conhecidos nas páginas do romance que os trouxeram à vida. Mas a única adaptação que traz o tom religioso e os conflitos do romance para a superfície é o curta musical da Broadway, cheio de canções gloriosas e dramáticas que retratam o tormento de Edward em enganar Jane e sua miséria em deixá-lo. Ele incorpora muito do diálogo original da autora de forma única e emocionante e eu recomendo ouvir o álbum. Para mim continua a ser a versão perfeita, apesar de ser um áudio ao invés de representação visual da história.
Edward veio à vida muitas vezes através de diferentes representações de muitos atores talentosos, mas minha representação favorita é da recente minissérie da BBC. Ao invés de cair presa da tentação de fazer um Edward sem senso de humor, Toby Stephens se aproxima do personagem com flerte e encanto, de tal forma que, pela primeira vez, o meu senso de moralidade foi abalado apenas o suficiente para esperar que Jane possa mudar de idéia. É aí que reside a força da história e do seu poder, que nos pede para escolher entre o que nosso coração deseja para Jane e Edward e o que seria melhor para eles. Edward é um homem imperfeito, mas fez tanto melhor no final.

8 de out. de 2012

Magical doorways (Costume Chronicles – C.S. Lewis Especial)

O último artigo que traduzi da webzine Costume Chronicles. Essa edição foi totalmente dedicada a C.S. Lewis, publicada em 2011.

Portais mágicos (Magical doorways)
Autora (Author): Christine Fitzner.

Tocas de coelho, guarda-roupas, tornados... apenas três das maneiras que as crianças de suas respectivas histórias são transportadas de suas vidas mundanas para mundos mágicos e paralelos. Nosso fascínio por outras terras e os “guarda-roupas” para alcançá-los está espalhado em toda a literatura. Da mitologia antiga, quando as outras dimensões eram vistas como partes físicas da terra (o submundo, os deuses do Olimpo) a fantasia moderna, não há como negar que este é um tema que tem grande apelo para nós. 
Meu próprio fascínio começou, como eu suspeito que para muitos na infância, com O Mágico de Oz, embora eu não recomende que alguém tente o método de transporte de Dorothy para chegar a Oz! O filme de televisão de 1985 Alice in Wonderland / Through the Looking Glass também ocupa um lugar fixo em minhas memórias e, possivelmente, é a raiz da minha fixação em espelhos-como-portais. A partir destas primeiras influências, eu me coloquei atrás de espelhos antigos, procurei por casas de gnomos nas árvores, e fique atenta para ver coelhos brancos em coletes. 
Brincar de fingir não é incomum, como a maioria das crianças faz, mas muitas vezes eu me pergunto quando elas crescem, se elas algum dia ultrapassam essa fase. Passei a maior parte da minha infância procurando portas secretas, salas e corredores na casa da minha avó, empurrando armários cheios de roupa, convencida de que havia algo maravilhoso e misterioso na parte de trás. Mesmo na adolescência eu fingia (somente na minha cabeça) que era uma noviça em Avalon por trás das névoas ou que eu vivia na The Paris Opera House de Gaston Laroux. Sendo tímida e socialmente desajeitada, essas fantasias normalmente envolviam um lugar para me esconder dos meus pares e ser notada pelos outros como alguém especial (algo que minha personalidade acanhada não me deixaria expressar na vida real). 
Deparei-me com Nárnia muito mais tarde, não tendo sido introduzido ao gênero de fantasia fora dos filmes até minha adolescência. Talvez me falte o amor e respeito para com este universo que eu poderia ter tido se o tivesse conhecido quando criança; no entanto, ele ainda atingiu em mim a vontade e o desejo de encontrar um mundo secreto. Como eu assisti ao filme de ação, encontrei-me incrivelmente com inveja de Lucy Pevensie quando ela tropeçou na parte de trás do armário para a Nárnia cheia de neve. Não tenho certeza se teria gostado de encontrar a Feiticeira Branca ou lutar uma batalha contra ela, mas a descoberta é certamente atraente. 
Como as décadas seguem e o mundo habitual torna-se mais científico e tecnológico, há menos espaço para a admiração. Enquanto há muitas coisas que não podemos explicar, ainda assim, há muito que podemos explicar. O espaço para a descoberta está encolhendo, aparentemente relegado para estudiosos e cientistas. A magia do mundo está desaparecendo. Precisamos dessas histórias em nossa consciência coletiva, precisamos de C.S. Lewis para nos mostrar o caminho para a magia escondida, porque um mundo desprovido de magia é um lugar realmente sombrio. O desejo de fugir, de ser transportados para Nárnia, Oz, ou mesmo para o país das Maravilhas é tão arraigado em nossa cultura que não parece justo que não exista um guarda-roupa mágico esperando em algum lugar para cada um de nós. 
Ou será que existe?