Título: Negação
Autora: Deborah E. Lipstadt
Mês: Outubro
Tema: Um livro que comece com a inicial do seu nome
Editora Universo dos Livros, 432p.
Deborah E. Lipestadt é uma conceituada historiada e professora em uma universidade renomada em Atlanta. Ao receber uma carta da Peguin Editora, responsável pela publicação de seu livro Denying the holocaust, Deborah não sabe exatamente como reagir a notícia de que está sendo processada por David Irving, um renomado estudioso de Hitler também famoso por ser um negacionista do holocausto. Em seu livro, Deborah o cita de maneira negativa e David resolve processá-la por difamação, mas diferente de como acontece nos EUA (onde o acusador teria que provar que Deborah mentira), na Inglaterra é a parte acusada que deve provar que está dizendo a verdade. E assim começa um processo que levará anos até que ambos se ponham na frente do juiz. O julgamento começa e à medida que estudiosos e especialistas começam suas explicações, as verdades, mentiras e distorções sobre um dos períodos mais negros da história humana são expostas.
A primeira vez que entrei em contato com a história do julgamento de Deborah Lipstad foi através do filme de mesmo nome lançado em 2017. Não só porque o elenco é excelente, mas porque a temática, apesar de polêmica, também é um assunto que vale qualquer debate. Então quando peguei o livro, já sabia o que ia encontrar e esperava que o livro fosse mais profundo e abrangente. O que, obviamente ele é. Recheado de detalhes sobre ao extermínio de judeus, o livro também traz logo no início um breve resumo da vida de Deborah e o caminho que ela trilhou até se transformar na professora conceituada que é hoje.
Ao mesmo tempo, dá uma vontade imensa de esganar David Irving. Primeiro, ele não nega que os judeus foram vítimas da guerra, ele só “não admite” que o comando de exterminá-los partiu de Hitler, que as mortes não foram casualidades da guerra, que os campos não tinham como objetivo o extermínio, e finalmente, que tudo não passa de lenda para os judeus adquirirem vantagem financeira.
“Um extermínio é um extermínio”, respondeu em voz baixa. Irving continuou insistindo que aquelas pessoas morreram em virtude de “condições ruins” e não de um sistema de extermínio planejado e o rosto de Peter foi ficando cada vez mais vermelho. Virando-se de modo a não olhar para Irving, falou duramente: “O propósito do campo de concentração não era manter os prisioneiros vivos. […] o propósito do campo de concentração aqui era claramente fazer as pessoas morrerem. […] Não se pode compará-lo a uma prisão nem nada do tipo em um país civilizado".
A medida que o julgamento acontece, cada uma das alegações de Irving é demolida, mesmo com ele negando e negando e negando. A cada vez que a defesa ganhava em um ponto, eu celebrava. O final é excelente, claro depois de ver o filme, fiquei aliviada porque sabia qual seria a sentença. Um dos melhores livros que eu já li, na verdade essa livro é uma senhora aula de história. Completamente recomendado, assim como o filme.
O filme
Em segundo lugar, ficou claro desde o início que o filme seria uma defesa da verdade histórica. Defenderia que, embora os historiadores tenham o direito de interpretar os fatos de formas distintas, eles não têm o direito de conscientemente deturpar os fatos. Necessária aos historiadores, tal integridade certamente aplicasse também aos roteiristas. Se eu quisesse oferecer um relato do julgamento e do comportamento de David Irving, não poderia desfrutar da licença de especular ou inventar, a qual costuma ser concedida a escritores.
O filme é exatamente isso. Claro que o início é diferente, eles não perderam tempo explicando ou mostrando a vida de Deborah, mostram ela atuando em seu campo (ministrando aulas sobre o holocausto). A partir daí, começa a preparação de Deborah e sua equipe para lidar com Irving. Muita coisa ficou de fora da adaptação, claro, mas os principais aspectos estão presentes: a viagem a Auschwitz, a indignação de Deborah ao ser auxiliada a permanecer calada dentro e fora do tribunal, o depoimento de Van Pelt (um dos historiadores chamados pela defesa).
Uma das melhores cenas foi o momento da deliberação do juiz antes de todos se retirarem para que ele pudesse avaliar tudo e proferir a sentença (isso eles não mudaram praticamente nada e, como Deborah, você consegue sentir a total frustração – no meu caso, eu quase pirei de raiva com essa colocação):
Em seguida, fez o que descreveu como sendo sua “última pergunta”. “Se alguém é antissemita […] e extremista, ele é perfeitamente capaz de ser, por assim dizer, honestamente antissemita e honestamente extremista no sentido de ter essas visões e expressá-las porque elas são, de fato, suas visões?”
Rapidamente verifiquei a tela do computador para ter certeza de que tinha ouvido direito. O juiz Gray estava sugerindo que, se Irving honestamente acreditasse em suas declarações antissemitas e racistas, elas eram aceitáveis?
Como eu falei acima, o final é o que se espera de um tribunal justo, mesmo que às vezes durante o julgamento tenha parecido o contrário. Vale muito a pena. Para terminar, deixo aqui uma palestra de Deborah sobre o assunto:
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