Mostrando postagens com marcador Deborah E. Lipstadt. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Deborah E. Lipstadt. Mostrar todas as postagens

12 de out. de 2018

Negação (Deborah E. Lipstadt) – D12ML 2018


Título: Negação
Autora: Deborah E. Lipstadt
Mês: Outubro
Tema: Um livro que comece com a inicial do seu nome
Editora Universo dos Livros, 432p.

Deborah E. Lipestadt é uma conceituada historiada e professora em uma universidade renomada em Atlanta. Ao receber uma carta da Peguin Editora, responsável pela publicação de seu livro Denying the holocaust, Deborah não sabe exatamente como reagir a notícia de que está sendo processada por David Irving, um renomado estudioso de Hitler também famoso por ser um negacionista do holocausto. Em seu livro, Deborah o cita de maneira negativa e David resolve processá-la por difamação, mas diferente de como acontece nos EUA (onde o acusador teria que provar que Deborah mentira), na Inglaterra é a parte acusada que deve provar que está dizendo a verdade. E assim começa um processo que levará anos até que ambos se ponham na frente do juiz. O julgamento começa e à medida que estudiosos e especialistas começam suas explicações, as verdades, mentiras e distorções sobre um dos períodos mais negros da história humana são expostas.

A primeira vez que entrei em contato com a história do julgamento de Deborah Lipstad foi através do filme de mesmo nome lançado em 2017. Não só porque o elenco é excelente, mas porque a temática, apesar de polêmica, também é um assunto que vale qualquer debate. Então quando peguei o livro, já sabia o que ia encontrar e esperava que o livro fosse mais profundo e abrangente. O que, obviamente ele é. Recheado de detalhes sobre ao extermínio de judeus, o livro também traz logo no início um breve resumo da vida de Deborah e o caminho que ela trilhou até se transformar na professora conceituada que é hoje.
Ao mesmo tempo, dá uma vontade imensa de esganar David Irving. Primeiro, ele não nega que os judeus foram vítimas da guerra, ele só “não admite” que o comando de exterminá-los partiu de Hitler, que as mortes não foram casualidades da guerra, que os campos não tinham como objetivo o extermínio, e finalmente, que tudo não passa de lenda para os judeus adquirirem vantagem financeira.

“Um extermínio é um extermínio”, respondeu em voz baixa. Irving continuou insistindo que aquelas pessoas morreram em virtude de “condições ruins” e não de um sistema de extermínio planejado e o rosto de Peter foi ficando cada vez mais vermelho. Virando-se de modo a não olhar para Irving, falou duramente: “O propósito do campo de concentração não era manter os prisioneiros vivos. […] o propósito do campo de concentração aqui era claramente fazer as pessoas morrerem. […] Não se pode compará-lo a uma prisão nem nada do tipo em um país civilizado".

A medida que o julgamento acontece, cada uma das alegações de Irving é demolida, mesmo com ele negando e negando e negando. A cada vez que a defesa ganhava em um ponto, eu celebrava. O final é excelente, claro depois de ver o filme, fiquei aliviada porque sabia qual seria a sentença. Um dos melhores livros que eu já li, na verdade essa livro é uma senhora aula de história. Completamente recomendado, assim como o filme.

O filme



Em segundo lugar, ficou claro desde o início que o filme seria uma defesa da verdade histórica. Defenderia que, embora os historiadores tenham o direito de interpretar os fatos de formas distintas, eles não têm o direito de conscientemente deturpar os fatos. Necessária aos historiadores, tal integridade certamente aplicasse também aos roteiristas. Se eu quisesse oferecer um relato do julgamento e do comportamento de David Irving, não poderia desfrutar da licença de especular ou inventar, a qual costuma ser concedida a escritores.

O filme é exatamente isso. Claro que o início é diferente, eles não perderam tempo explicando ou mostrando a vida de Deborah, mostram ela atuando em seu campo (ministrando aulas sobre o holocausto). A partir daí, começa a preparação de Deborah e sua equipe para lidar com Irving. Muita coisa ficou de fora da adaptação, claro, mas os principais aspectos estão presentes: a viagem a Auschwitz, a indignação de Deborah ao ser auxiliada a permanecer calada dentro e fora do tribunal, o depoimento de Van Pelt (um dos historiadores chamados pela defesa).
Uma das melhores cenas foi o momento da deliberação do juiz antes de todos se retirarem para que ele pudesse avaliar tudo e proferir a sentença (isso eles não mudaram praticamente nada e, como Deborah, você consegue sentir a total frustração – no meu caso, eu quase pirei de raiva com essa colocação):

Em seguida, fez o que descreveu como sendo sua “última pergunta”. “Se alguém é antissemita […] e extremista, ele é perfeitamente capaz de ser, por assim dizer, honestamente antissemita e honestamente extremista no sentido de ter essas visões e expressá-las porque elas são, de fato, suas visões?” 
Rapidamente verifiquei a tela do computador para ter certeza de que tinha ouvido direito. O juiz Gray estava sugerindo que, se Irving honestamente acreditasse em suas declarações antissemitas e racistas, elas eram aceitáveis?

Como eu falei acima, o final é o que se espera de um tribunal justo, mesmo que às vezes durante o julgamento tenha parecido o contrário. Vale muito a pena. Para terminar, deixo aqui uma palestra de Deborah sobre o assunto: