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3 de jul. de 2023

As irmãs Romanov (Helen Rappaport) – DLL 2023


 

Título: As Irmãs Romanov: A vida das filhas do último tsar 
Autora: Helen Rappaport 
Mês: Julho 
Tema: Escrito por autora européia 
Editora Objetiva, 523p. 

Sinopse: Em 17 de julho de 1918, quatro jovens mulheres desceram 32 degraus até o porão de uma casa em Ecaterimburgo, na Rússia. A mais velha tinha 22 anos e a mais nova, apenas dezessete. Junto com os pais e o irmão de treze anos, foram cruelmente assassinadas. Seus crimes: serem filhas do último tsar da Rússia. 
Muita coisa foi escrita sobre Nicolau II, sua mulher Alexandra e o trágico destino da família imperial, como também sobre a Revolução Russa de 1917, mas pouco se disse sobre o drama das princesas Romanov, que sempre foram vistas como personagens secundárias dessa trama. Em As irmãs Romanov, no entanto, a aclamada biógrafa Helen Rappaport traz a história delas para o centro da narrativa e oferece aos leitores o mais completo relato da vida das grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia. 
Tendo por base as cartas e os diários das jovens e em fontes primárias nunca antes examinadas, Rappaport desenha um quadro vívido das irmãs nos últimos dias da dinastia Romanov. Seguimos as grã-duquesas desde o nascimento, passando pela infância superprotegida, até os anos de juventude — as primeiras paixões, os sonhos, a dificuldade de lidar com um irmão hemofílico e uma mãe cronicamente inválida — e, por fim, o trauma da Revolução e suas terríveis consequências. 
Com um texto instigante, baseado em uma pesquisa meticulosa, As irmãs Romanov dá voz a essas quatro jovens e é capaz de comover leitores um século depois de suas mortes trágicas e prematuras. 

A história tem dois lados. Essa é uma frase muito comum de se ouvir. Só que eu acho que deveriam dizer: a história tem vários lados e esse livro é uma prova disso. Não é errado dizer que sobre a história da Rússia dois assuntos sempre são muito discutidos: a Revolução russa e a queda dos Romanov. Dois pontos de vista sobre o mesmo período histórico. Mas como a história não tem só dois lados, esse assunto já foi abordado por várias perspectivas: a do romance entre Nicolau e Alexandra (o livro do Massie é uma maravilha), a do assassinato dos Romanov e a discussão sobre o reconhecimento dos corpos (também outra obra-prima de Massie), e agora esse, sobre as filhas do último czar. 

Elas são quatro garotinhas. São espertas, inteligentes, mas ninguém na Rússia as quer, com exceção de seus pais. 

Esse é um ótimo trecho que define muito bem a situação de Olga, Tatiana, Maria e Anastácia. Muito amadas pelos pais, isso é fato, mas sempre deixadas de lado em prol de Alexei, o tão esperado herdeiro para o trono imperial. Tanto que Olga, a mais velha, só é considerada para assumir o governo em último caso, quando Nicolau já não tinha mais esperança de ter o filho homem. E depois, quando a saúde de Alexei se revela frágil e consideram Olga no caso de uma possível regência em nome do irmão. 
A narrativa de Helen sobre a vida das irmãs, desde o nascimento de Olga até a morte de todas prende a atenção. Eu gostei muito do fato da autora se focar bastante nos menores detalhes das vidas das irmãs, desde seus primeiros aprendizados, passando por gostos particulares e os possíveis interesses amorosos. Um tópico que eu gostaria que tivesse sido mais discutido diz respeito a opinião pública sobre as irmãs, coisa que ainda não havia lido, já que as pessoas tendem a se focar em Alexei e a hemofilia. Uma das melhores leituras do ano.

9 de dez. de 2020

Os Romanov (Robert K. Massie) – DLL 2020


Título: Os Romanov: o fim da dinastia
Autor: Robert K. Massie
Mês: Dezembro
Tema: Um livro que você ganhou
Editora Rocco, 269p.

Na madrugada do dia 17 de julho de 1918, Nicolau, Alexandra e seus cinco filhos foram acordados por Yakov Yurovsky e notificados que deveriam ir se esconder no porão da casa onde estavam porque a cidade estava agitada e eles corriam risco de serem atingidos caso houvesse tiroteio nas ruas. Obedecendo as ordens, o czar e sua família se dirigiram ao porão e junto com eles foram o médico da família Eugene Botkin, o valete de Nicolau, Trupp, a camareira de Alexandra, Demidova e o cozinheiro Kharitonov.

“Tendo em vista o fato de que seus parentes continuam a atacar a Rússia Soviética, o Comitê Executivo do Ural decidiu executá-los.”

O que se seguiu foi o assassinato de Nicolau, Alexandra, seus filhos e funcionários. Alguns morreram na hora, outros foram mortos com mais brutalidade e perda de controle por parte dos carrascos. Vendo que a execução não tinha saído como planejado, Yurovsky se apressou a dar fim nos corpos. Desfigurados, despidos e roubados (as grã-duquesas haviam costurado suas jóias dentro dos corpetes), os mortos foram jogados na mina mais profunda na área conhecida como Quatro Irmãos e detonaram a entrada da mina com bombas.
Quando Yurovsky voltou a Ekaterinburg, encontrou a cidade fervilhando de comentários sobre o assunto. Com o Exército Branco se aproximando, decidiu que precisava enterrar os corpos em um novo local. Retirar os corpos da mina, escolher um novo local e dar um sumiço mais permanente nos corpos levou todo o dia 18 de julho até que na madrugada do dia seguinte:

o veículo ficou definitivamente atolado. Já que não chegaríamos até as minas profundas, só podíamos enterrá-los ou queimá-los. Queríamos queimar Alexei e Alexandra Feodorovna, mas, por engano, em vez dela queimamos sua dama [Demidova] e Alexei. Enterramos os restos ali mesmo, sob a fogueira, jogamos pás de argila por cima dos restos, acendemos outra fogueira no local e espalhamos as cinzas e brasas, a fim de cobrir totalmente os vestígios da cova. Enquanto isso uma vala comum era cavada para os outros. Por volta das sete da manhã, outra cova de dois metros de profundidade com dois e meio metros quadrados estava pronta. Os corpos foram colocados no buraco e ensopados fartamente com ácido sulfúrico de modo a não serem reconhecidos e impedir qualquer odor de decomposição. Enchemos de galhos e de cal, cobrimos com madeira e passamos o caminhão por cima diversas vezes – até não restar vestígio do buraco. O segredo foi bem guardado – os Brancos não encontraram o local do sepultamento.

Em 1919, um investigador jurídico descobre resquícios de objetos pessoais da família e ossos calcinados durante uma escavação nos Quatro Irmãos, mas dada a situação no país, Sokolov só publica seus achados em 1924, no livro Inquérito judicial sobre o assassinato da família imperial russa, que se torna um relato oficial do assassinato da família imperial e obriga o governo soviético a mudar a história sobre o destino da imperatriz e seus filhos, que ainda eram acreditados como vivos, mas escondidos. A partir daí, se sucedem investigações em busca dos ossos e exames para reconhecer e enfim dar um destino digno aos restos mortais dos últimos Romanov.

Publicado em 1968, The Sokolov investigation, de autoria de John F. O'Connor, traduz do russo partes do livro de Sokolov, Inquérito judicial sobre o assassinato da familia imperial russa.

A primeira coisa que devo dizer sobre esse livro é que: os nomes mais importantes nele não são de Nicolau ou Alexandra ou de suas filhas e seu filho, mas sim dos investigadores que descobriram, analisaram e escreveram sobre a descoberta e reconhecimento dos corpos encontrados em uma cova secreta em Ekaterinburg. São eles:

-Nikolai Sokolov, investigador jurídico que iniciou em janeiro de 1919 uma investigação sobre o paradeiro da família real com a permissão do “Chefe Supremo” do Governo Branco da Sibéria;
-Alexander Avdonin,e Geli Ryabov, ambos interessados na “mistério” da morte dos Romanov que descobrem a cova onde os corpos foram enterrados e encontram alguns crânios;
-Sergei Abramov, cuja equipe conseguiu identificar sem DNA os mortos, com exceção de Maria e Alexei, cujos esqueletos faltavam;
-William Marples, criador do Laboratório de Identificação Humana da Universidade da Flórida, cuja equipe também examina os esqueletos e constata que quem falta é Anastásia, ao invés de Maria;
-Peter Gill, responsável pelos testes de DNA que identificaram os esqueletos com mais precisão.

Robert K. Massie faz um excelente relato sobre o assassinato dos Romanov, a descoberta dos restos mortais e a investigação em busca da confirmação das mortes. Ele mostra que Moscou não somente sabia do assassinato da família inteira, mas aprovava e também ocultou informações sobre o assunto do resto do mundo. Ele não somente cita os primeiros investigadores que descobriram a cova e as ossadas em 1979, Avdonin,e Ryabov, mas relata o processo da descoberta, o pacto que fizeram de não mencionar nada e mais tarde, a quebra desse pacto. Ele faz um apanhado da história soviética e como as mudanças políticas permitiram que fossem feitas investigações mais profundas para se encontrar todos os esqueletos e se reconhecer as pessoas a quem eles pertenciam.

Casa de Ipatiev, onde a Nicolau e sua família ficou de abril a julho de 1918 e onde foram assassinados. A casa foi destruída em 27 de julho de 1977, depois que o lugar havia se transformado em um local de peregrinação.

Achei essa parte a mais interessante (e um pouco macabra, dado o relato do estado dos ossos) do livro por conta da descrição completamente detalhada que Massie faz. Ele fala da confusão entre Abramov e Marples e suas discordâncias sobre os esqueletos faltantes. Gostei da abordagem objetiva sobre as implicações políticas, e mais importantes, familiares de levar os ossos dos Romanov para um laboratório forense em Aldermanston, na Inglaterra, por conta de testes de DNA para se identificar as pessoas a quem os esqueletos pertenciam.
Foi bom ver que ele abordou outras questões: o que houve com a Casa de Ipatiev, as reações do povo de Ekaterinburg e a posição da Igreja Ortodoxa Russa:

Paralisada por 75 anos de submissão ao Estado ateu, a Igreja Ortodoxa Russa ainda peleja para achar um meio de lidar com a execução dos Romanov. Se morreram como mártires, deveriam ser canonizados como santos – como de fato foram pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, em 1981. Ainda que Nicolau e sua família não fossem considerados vítimas de martírio e merecedores de canonização, mas simplesmente vítimas de um assassinato político, a igreja se sentia na obrigação de levar em conta sua morte violenta. (Mesmo não tendo considerado o assassinato do czar Alexandre II, em São Petersburgo, em 1881, um martírio, a Igreja Ortodoxa Russa construiu no local a Catedral do Sangue para perpetuar a memória do czar.) 
Mesmo antes da exumação dos esqueletos de Ekaterinburg, o arcebispo local queria erguer uma igreja memorial na área da Casa de Ipatiev. “Este é o lugar onde começou o sofrimento do povo russo”, afirmou o arcebispo Melkhisedek. A igreja seria chamada Catedral do Sangue Derramado para “simbolizar a penitência da sociedade e expurgar as ilegalidades e as repressões desmedidas que foram infligidas durante os anos do bolchevismo”.[...]

Um assunto sobre o qual Massie se debruça é a questão da briga entre Moscou e Ekaterinburg pelo controle dos ossos dos Romanov, e o papel de Vladmiri Soloviev, um procurador-criminologista que tratou a investigação como processo criminal, e passou a querer tanto a determinação final sobre as identidades dos restos mortais quanto ao paradeiro das duas crianças que faltavam. O autor dedica a segunda parte do livro para falar dos impostores que surgiram alegando serem as crianças desaparecidas, sendo a mais famosa impostora Anna Anderson ou Franziska Schanzkowska (dentre outros nomes).
De muitas formas, esse livro acabou sendo bem diferente do que eu esperava. Ganhei ele ano passado num sorteio deste desafio, e o engraçado é que quando coloquei ele na estante do skoob, achei que seria mais uma biografia sobre os Romanov. Acabei com o relato sobre todos os passos da investigação para se descobrir os restos mortais da família, o que foi muito mais interessante. Essa minha resenha acabou ficando enorme justamente por causa disso, é tanta informação, tanto detalhe que me deu vontade escrever e escrever mais para fazer com que todo mundo tenha vontade de ler. Um dos melhores livros que li esse ano, completamente indicado.

16 de jan. de 2019

Nicolau & Alexandra (Robert K. Massie) – DLL 2019


Título: Nicolau & Alexandra
Autor: Robert K. Massie
Mês: Janeiro
Tema: Que deveria ter lido em 2018
Editora Rocco, 608p.

A pessoa do czar era o governo da Rússia. Seu poder era absoluto, devendo satisfações apenas a Deus.

Na Rússia autocrata de fins de 1800, o pai de Nicolau, Alexandre III governava tanto o império quanto a família com “mãos de ferro”, portanto o interesse do czarevitch em uma princesa de origem alemã, Aliex Victoria, filha de Alice da Inglaterra e neta da rainha Victoria, não despertou encorajamento na família real russa. No entanto, Nicolau negou todas as pretendentes oferecidas e finalmente conseguiu casar com a mulher por quem se apaixonou. Em 1894, ele sucede ao pai no trono e se casa com Alix, agora Aexandra Fedorovna, no mesmo ano. Um homem pacífico e até ingênuo como czar, Nicolau começou seu reinado quando a Rússia passava por um momento de avanço cultural e intelectual. Incitado pelo kaiser alemão Guilherme II, ele expande o território russo pela Ásia, mas cria atritos com o Japão e tem sua imagem difamada na Rússia e no mundo.
No âmbito pessoal, Nicolau se mostra realizado com o nascimento de seu filho Alexei, já sendo pai de Olga, Tatiana, Maria e Anástacia. Mas a alegria durou pouco, pois o tão esperado herdeiro era hemofílico. Antes já devotada a ortodoxia russa, Alexandra se tornou paranoica, voltando-se totalmente para a religião em busca de uma cura para a doença do filho (de quem ela tomava conta pessoalmente, como foi com as filhas), já que que os médicos não conseguiam resolver nada. Ela também era movida pela culpa que sentia, já que a hemofilia é uma doença transmitida de mãe para filho. É nesse momento que surge Gregório Rasputin.

“A doença do czarevich lançou uma sombra sobre todo o período terminal do reinado do czar Nicolau II, e basta para explicar. Sem que parecesse, foi uma das principais causas de sua queda, pois tornou possível o fenômeno de Rasputin e resultou no fatal isolamento dos soberanos, que viviam num mundo à parte, totalmente absorvidos numa trágica ansiedade que precisava ser escondida de todos os olhares.” – Pierre Gilliard, Tutor do czarevich Alexei

Um camponês siberiano de origem humilde, Rasputin começa a circular nos aposentos reais desde que conseguiu tratar uma grave crise de Alexei, a ponto das pessoas se mostrarem incomodadas com a familiaridade demonstrada entre o recém-conhecido e a imperatriz (o que mais tarde leva ao surgimento de boatos ofensivos e mentirosos). Até hoje não se pode afirmar com certeza quais os métodos usados por Rasputin para dar fim as crises do menino (mesmo que o que ele fizesse dava sim resultado), o fato é que através desses procedimentos, o camponês caiu nas graças da imperatriz, que começou a acreditar na santidade dele, e portanto, que todos os seus conselhos e “visões”, inclusive sobre assuntos sérios como a participação da Rússia na I Guerra Mundial e o governo do país nesse período, deveriam ser levados a sério por todos, inclusive pelo próprio imperador.
Nem mesmo a morte de Rasputin conseguiu desfazer a insatisfação popular. Alexandra se tornou o principal alvo dos acusadores, então para conter o descontentamento e evitar uma guerra civil, Nicolau II assina sua renuncia ao trono no dia 15 de março de 1918, dando poder total ao Governo Provisório e findando uma dinastia de 300 anos. Em 16 de julho, Nicolau, sua família e seus acompanhantes são assassinados a sangue frio pelos bolcheviques. Os corvos são carbonizados e enterrados na floresta de Ekateringurb, cidade que se tornou a última morada da família imperial após lhe serem negados pedidos de asilo. Ao longo dos meses seguintes, muitos integrantes dos Romanov são mortos, só sobrevivem os que conseguem fugir do país.


Neste mesmo desafio ano passado, eu selecionei esse livro esse livro (até porque fez 100 anos da morte do czar Nicolau e sua família e da Revolução Russa), mas acabei não lendo, achei ele enorme demais e o tempo não daria, então sabia que teria que ler esse ano. Poucas vezes eu tive um prazer tão grande lendo uma biografia histórica como essa, o último livro que me proporcionou uma leitura agradável assim foi O assassinato do arquiduque. Robert K. Massie fala com maestria impressionante não somente da vida de cada um dos personagens principais desse capítulo da história, mas também da situação política da época. Além de aprender o porquê dos nomes Nicolaievich e Alendrorovna (os sufixos masculino “vich” e feminino “ovna” são adicionados aos nomes das pessoas para indicar o nome do pai), foi interessante perceber o quanto ele, como historiador, põe nas mãos da imperatriz a responsabilidade pela queda do império russo.

Alexei tinha hemofilia.

Suas colocações de que, como pessoas reais que precisavam passar uma imagem de perfeição, se a família tivesse aberto desde o início para o público a condição de saúde do pequeno Alexei, ainda mais em uma época em que a hemofilia era uma doença envolvida em mistério, as pessoas poderiam ter se solidarizado com o desespero de uma mãe e talvez tudo teria sido diferente. Ele mostra o quanto Alexandra, mesmo esgotada psicologicamente com a doença do filho, trabalhou para preservar a união do império, sem “permitir” qualquer tipo de concessão por parte do marido (eles confiavam muito um no outro), porque era a herança de Alexei, abrindo um caminho maior para a revolução.

Experimentei vários sentimentos lendo esse livro. Parece que no assunto “Rasputin”, a coisa girava em círculos: Alexandra dependia de Rasputin para tudo e quando o marido partiu para a guerra, ela só ouvia os seus conselhos. Exortando o marido a fazer o mesmo, Alexandra não recebia uma recusa aberta, e acabava tendo seu desejo atendido porque Nicolau queria acalmá-la, mesmo que visse o starets com algo próximo a respeito cético. Ele, então acatava as escolhas de Alexandra, as quais eram sussurradas por Rasputin. E foi isso que o levou a perder o trono.

Embora o czar achasse muito natural admitir sua esposa em segredos militares, ele não queria que ela os transmitisse a Rasputin. Muitas vezes, após confiar a ela vários detalhes, ele escrevia: “Peço-lhe, meu amor, não comunicar esses detalhes a ninguém. Escrevi apenas para você... Peço-lhe, guarde para você, absolutamente ninguém mais deve saber disso.” Quase com a mesma frequência, Alexandra ignorava o pedido do marido e contava a Rasputin. “Ele não vai contar a vivalma”, ela garantia a Nicolau, “mas tive que pedir a bênção dele para sua decisão.”

A grande ironia da coisa toda é que, ao mesmo tempo em que parece que Alexandra foi injustiçada (pois ao se casar com Nicolau, ela assumiu o papel de mãe do povo, visitando hospitais para tuberculosos, colocando as filhas para fazer o mesmo e as educando para conhecer o mundo real, além de se desgastar com os cuidados que prestava a Alexei), era também enlouquecedor ver o nível de adoração que ela tinha por Rasputin, mesmo que isso se justifique no fato de que ele foi o único a aliviar a dor de seu filho e assim, diminuir a culpa que sentia por passar a doença.

Ao mostrar como era a vida dos imperadores, o autor mostra que a aceitação de Alexandra pelo povo e pelos nobres não foi possibilitada pela própria, já que, além de sua origem alemã, e o fato de ter se transformado na imperatriz da Rússia de forma muito rápida, sua timidez característica também não permitia que ela se sentisse à vontade nos círculos reais. Mais tarde, com a doença do filho progredindo, a culpa que ela se atribuía por transmitir a hemofilia e sua devoção cega a Rasputin fizeram com que ela passasse a ser odiada, e por conseguinte, seu marido, acusado de estar sob o controle dela e do amante (boato que correu na época devido a intimidade existente entre o camponês e a imperatriz).

Igreja do Sangue em Ecaterimburgo, construída no lugar onde Nicolau II e sua família foram mortos em 1918.

Massie mostra que a queda dos Romanov e a Revolução Russa ocorreram devido a vários fatores não isolados e extremamente coligados, ele não poupa nenhum detalhe, inclusive na descrição do assassinato da família imperial e o que aconteceu com seus restos mortais. Um livro tão completo quanto comovente, que capta a atenção do leitor desde a primeira página. Não tenho palavras para dizer o quanto eu o recomendo, e já posso dizer que é um dos melhores livros do ano.