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19 de mar. de 2021

Como Star Wars conquistou o universo (Chris Taylor) – DLLC 2021



Título: Como Star Wars conquistou o universo: o passado, o presente e o futuro da franquia multibilionária 
Autor: Chris Taylor 
Mês: Março 
Tema: Um livro com mais de 500 páginas
Editora Aleph, 616p. 

Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, ocorreu uma aventura fantástica. 

Para esse livro resolvi fazer uma resenha diferente. Ao invés de escrever uma sinopse pequena e falar sobre as minhas impressões, resolvi partir logo para a segunda parte. Sem dúvida, já está na lista dos melhores do ano. 
O livro passa por eventos significantes da vida de George Lucas, quando surgiu a ideia de uma fantasia espacial, como surgiu o nome Star Wars, a escrita dos manuscritos e suas mudanças, a aprovação do estúdio, as filmagens e pós-produções (quando se vê que a real paixão de Lucas era lidar com efeitos especiais, apesar dos colapsos que ele tinha nesses momentos), as estreias (e fica claro a diferença entre cada uma, que vai aumentando de acordo com a popularidade da história), os acordos após o sucesso do primeiro filme, tanto sobre os riscos (porque na época, filmes com continuações eram um risco e tanto) de uma sequêcia quanto sobre os produtos licenciados, as cópias que surgiram depois e a forma que a Lucasfilm lidou com a situação. 
Eu gostei de saber sobre várias coisas, como o Star Wars Holiday Special, que foi uma tentativa de manter o interesse na saga durante o tempo entre o que seria no futuro os episódios IV e V, mas que fracassou terrivelmente. E de entender sobre outras, como por exemplo a implicância que alguns atores tinham com o roteiro (eu já sabia de alguns, e não conhecia muito sobre a questão de David Prowse, o Darth Vader dentro da armadura, então essa parte foi muito interessante). Claro que desde a trilogia original, existem muitas falhas e cada vez, cada roteiro passa por aprovações e recusas de Lucas, mas para mim, não era necessário o nível de raiva que os atores e o fandom demonstrou. 
Outras partes favoritas foram as que mencionam Carrie e sua personagem lendária: apesar de se tornar um ícone, a princesa Leia sofreu o machismo comum da época, enquanto Carrie, incomodada com o direito dado a Ford de mudar seus diálogos no ep. V, sentiu a carreira estagnada no papel. 

[...] Nos primeiros roteiros de Lucas, ela ganhou o primeiro comando na “Lua Verde” ainda sem nome onde os Ewoks viviam. Quando Kasdan escreveu o manuscrito, ela era apenas mais uma integrante da missão de Han à lua. Carrie Fisher pedira a Lucas por algum diferencial para o personagem, talvez um problema com bebida; algo, pelo menos, que indicasse o sofrimento que a princesa passara, o genocídio do planeta inteiro. Ela ganhou um biquíni de escrava. 

O livro também fala do universo expandido (e de como a empresa lidou com esse material) em livros em quadrinhos e do controle que a Lucasfilm passou a exercer sobre esse material graças as mortes de Mara Jade e Chewbacca. Quando o autor começa a abordar o surgimento da trilogia prequel, o livro já passou da metade mas foi a metade que eu estava mais ansiosa para ler, porque eu sempre adorei essa trilogia e nunca entendi o ódio por ela, considerando que a trilogia original estava longe de ser perfeita. No entanto, depois de ler os capítulos sobre as prequels, entendi um pouco mais sobre algumas das decisões criativas. Aí o autor fala da criação do filme e da série The Clone Wars até chegar a época mais atual: a venda da Lucasfilm para a Disney (adorei as menções a sucessora de Lucas, que hoje todos tratam como incompetente, mais uma injustiça): 

Não, se Lucas fosse vender a Lucasfilm, teria de ser a Lucasfilm mais elegante, ao estilo Edição Especial, que ela conseguisse ser. Era a hora de mudar tudo e torná-la nova, uma última vez. 
Primeiro passo: garantir um sucessor. Lucas disse que “ponderou sem parar” até a resposta lhe ocorrer: Kathleen Kennedy, sócia de Spielberg de longa data e uma das mais bem-sucedidas produtoras de Hollywood. Não havia outro candidato. “Por que eu não vi isso antes?”, Lucas se lembra de ter pensado. “Ela sempre esteve bem diante de mim.” Os dois se encontraram para almoçar em Nova York; após colocar o assunto de família e amigos em dia, Lucas disse que estava “caminhando decisivamente” para se aposentar. Será que ela estaria disposta a assumir o comando da Lucasfilm – e potencialmente ajudá-lo a passá-la para uma outra empresa? 

A reestrutuação da ordem dentro da história e a divisão entre o que seria considerado cânone e legend e a produção da nova trilogia (encerrada porcamente no fim de 2019), tudo isso ele aborda, incluindo a importância do trabalho de Pablo Hidalgo (com isso me ajudando a entender as razões de todo fã correr para ele com dúvidas sobre personagens e tudo relacionado a Star Wars). Como eu gostei da maneira como Chris Taylor aborda toda a história de Star Wars, eu adoraria que ele relançasse esse livro com mais capítulos falando da trilogia sequel, da continuação de Clone Wars, da recepção a The Mandalorian e aos filmes intermediários (Han Solo e Rogue One). De forma geral, é um livro que fala mesmo de tudo sobre Star Wars, vale a pena para qualquer apaixonado pela saga.

27 de jan. de 2021

Falsa acusação (T. Christian Miller e Ken Armstrong) – DLLC 2021

 


Título: Falsa acusação: uma história verdadeira
Autores: T. Christian Miller e Ken Armstrong
Mês: Janeiro
Tema: Um livro ganhador do Prêmio Pultizer
Editora Leya, 336p.

Sinopse: Um livro eletrizante, importante e perturbador, Falsa acusação é baseado numa história real e num artigo vencedor do Prêmio Pulitzer de jornalismo investigativo, que foi publicado no site de uma ONG na internet e viralizou em questão de horas. Como num episódio de Law & Order, os jornalistas T. Christian Miller e Ken Armstrong acompanham o trabalho incansável e a dedicação de duas detetives para colocar um estuprador em série na cadeia e dar voz às suas vítimas – fazendo também uma análise da maneira ultrajante como as mulheres são tratadas quando denunciam casos de violência sexual. Narrado em ritmo de thriller, Falsa acusação está sendo adaptado pela Netflix na série Unbelivable, prevista para estrear em 2019.
Essa é uma história da qual já ouvimos falar inúmeras vezes: uma mulher, vítima de estupro, vai à polícia fazer uma denúncia e acaba sendo interrogada com desconfiança pelos policiais – como que roupa você estava?, o que estava fazendo na rua a essa hora?, por que abriu a porta?, qual a quantidade de bebidas alcoólicas e substâncias entorpecentes que você tinha ingerido?, por que você está querendo chamar atenção? A única pergunta que falta nessa lista é: até quando isso vai acontecer?
Em 11 de agosto de 2008, Marie, de 18 anos, foi à polícia denunciar que um homem mascarado entrou em seu o apartamento e a estuprou. Depois de alguns dias, a polícia, e até mesmo algumas pessoas próximas, começaram a desconfiar da história. Os policiais rapidamente mudaram o rumo da investigação e passaram a interrogar a adolescente, que passou de vítima a suspeita. Confrontada com as inconsistências do seu relato e as dúvidas de todos, ela voltou atrás e disse que tinha mentido, que tudo não tinha passado de uma tentativa de chamar atenção. A polícia a acusou de ter feito uma denúncia falsa – e Marie foi taxada de mentirosa e execrada por todos.
Mais de dois anos depois, Stacy Galbraith, detetive de Golden, no Colorado, é designada para investigar um caso de estupro. Ela se junta a Edna Hendershot, detetive responsável por outro caso semelhante, e logo descobrem que estão às voltas com um estuprador em série. As duas detetives se dedicam a uma intensa investigação e acabam relacionando esse criminoso a inúmeros outros casos de violência sexual ainda não solucionados nos Estados Unidos.
Baseado nos arquivos da investigação policial e nas entrevistas com todos os envolvidos, Falsa acusação apresenta uma história cheia de reviravoltas, dúvidas, estigmas, mentiras e, acima de tudo, um profundo desejo de justiça. Além disso, lança no ar o grito de desespero das vítimas de violência de sexual que costumam encontrar mais desconfiança, olhares e palavras de acusação do que dedicação profissional e empatia.
Para Joanne Archambault, CEO da End Violence Against Women International, organização que combate a violência contra mulheres, T. Christian Miller e Ken Armstrong “mostram como a questão de gênero e os vários mitos sobre a violência sexual ainda influenciam – e muito – a maneira como as autoridades responsáveis investigam esses crimes, prejudicando ainda mais as vítimas e permitindo que os criminosos continuem em liberdade e possam cometer mais crimes. Esse livro brilhante é também o relato de uma investigação que só dá certo por causa de duas detetives que acreditam nas vítimas e não desistem de fazer justiça. Bem fundamentado e emocionante, Falsa acusação é uma leitura essencial.”

O que se pode escrever na resenha de um livro sobre o qual a sinopse já diz tudo e qualquer coisa que você escreva parece spoiler? Apesar de fugir de temas polêmicos nas minhas escolhas de leitura, este livro foi o mais atrativo na lista dos vencedores mais atuais do Prêmio Pultizer. Violência sexual, a questão do gênero, são assuntos que se discutem bastante hoje em dia, e o livro prende a atenção pela quantidade de informações, que mostram a quantidade de casos não resolvidos, além de mostrar o quanto o sistema ainda age de forma muito preconceituosa com as vítimas, na maioria das vezes as transformando em culpadas nesse nosso mundo culturalmente patriarcal. Fiquei curiosa para ver a série da Netflix (o episódio de Law & Order eu já vi e confesso que me deixou muito insatisfeita com o fim dele). 2021 mal começou, mas já posso afirmar que este foi uma das melhores leituras do ano.