Título: Quem traiu Anne Frank?
Autora: Rosemary Sullivan
Mês: Agosto
Tema: Letra Q
Editora HarperCollins Brasil, 379p.
Otto sabia que sua filha era um símbolo dos milhões de pessoas — tanto judias quanto não judias — que tinham sido assassinadas. O diário dela e o Anexo Secreto permaneciam em sua mente como um alerta do passado
e uma fonte de esperança.
O diário de Anne Frank é um dos livros mais famosos do mundo. A história da menina cheia de sonhos que passou dois anos escondida junto com sua família e alguns conhecidos só para ser descoberta perto do fim da guerra e mandada para campos de concentração. Com a fama do diário, a busca pelo delator dos ocupantes do Anexo acabou sendo deixado de lado, mas Otto Frank foi atrás de tentar descobrir. A equipe investigativa que resolveu elucidar esse mistério chegou a uma opção muito plausível, e nesse livro eles contam a história, do início ao fim, para descobrir quem traiu Anne Frank.
As pessoas que eu tirei dos esconderijos não me deixaram qualquer impressão. Seria diferente se fosse um homem como o general De Gaulle ou algum membro importante da resistência. Uma coisa assim a gente não esquece. Se eu não estivesse de plantão na hora em que meu colega recebeu um telefonema [...] jamais teria tido contato com a tal de Anne Frank. [...]
Essas foram as palavras de Karl Josef Silberbauer, um sargento da conhecida “unidade de caça aos judeus” na Holanda, para um jornalista investigativo sobre a descoberta de Anne e de todos que estavam escondidos no Anexo.
Foi ele quem recebeu a denúncia de que haviam judeus escondidos no prédio 263 da Prinsengracht e foi averiguar. Mas a história que esse livro conta vai muito além do dia 04 de agosto de 1944. Vai muito para trás também.
A primeira parte do livro fala sobre as pessoas escondidas, a escrita do diário, a relação com Miep, Kleiman, Kugler e Bep (que ajudaram a alimentar e manter as pessoas no Anexo), a descoberta do esconderijos, a prisão, a ida para os campos de concentração e a volta de Otto e sua descoberta de que era o único sobrevivente do Anexo.
A segunda parte já fala da investigação, de como Pieter van Twisk, Thijs Bayens e Vincent Pankoke se conheceram e começaram a trabalhar. O livro aborda a questão de saber se esse projeto valia a pena começar, a coleta de material (em quantidade imensa e desorganizada), as consultas com vários especialistas, as teorias sobre os prováveis culpados (alguns conhecidos de Otto, outros não), o papel e a visão do próprio Otto sobre o delator (que foi o que mais me surpreendeu) até se chegar na pessoa certa.
Vince tem o cuidado de dizer que não houve um momento “eureca” que encerrasse a investigação; [...] Por mais que a equipe esteja confiante com relação à conclusão, não houve alegria na descoberta. Mais tarde, Vince diria que se viu dominado por “um peso de grande tristeza” que permaneceu com ele.
O engraçado é que essa também foi a sensação que eu tive ao terminar de ler. Depois de tantos prováveis suspeitos, os motivos que poderiam fazer com que essas pessoas descobrissem e falassem sobre o esconderijo e a invalidez dessas suposições, é como se a história fosse uma grande corrida (os suspeitos) que acaba dando umas paradas no meio do caminho (o descarte das possibilidades) para se chegar no ponto final (o delator), mas não existe prazer nessa descoberta, simplesmente por conta de quem foi a pessoa e qual seu objetivo, que no fim das contas, foi o mesmo de Otto Frank: salvar a própria família. Não é uma desculpa, mas uma constatação. É como está no livro, um lembrete para que nada seja esquecido:
As escolhas de Arnold van den Bergh foram mortais, mas, em última instância, ele não foi responsável pela morte dos residentes do número 263 da Prinsengracht. Essa responsabilidade compete aos ocupantes nazistas que aterrorizaram e dizimaram uma sociedade, colocando vizinho contra vizinho. Foram eles os culpados pela morte de Anne Frank, Edith Frank, Margot Frank, Hermann van Pels, Auguste van Pels, Peter van Pels e Fritz Pfeffer. E de milhões de outros,
escondidos ou não.
E isso jamais poderá ser entendido ou perdoado.
Um livro excelente, que deu muito gosto de ler. Totalmente recomendado.
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