Título: Salvando a Itália
Autor: Robert M. Edsel
Mês: Fevereiro
Tema: Um livro baseado em fatos
Editora Rocco, 430p.
A cada ano, Hitler aumentava sua coleção. Agentes adquiriam para ele obras através de compras legítimas, vendas forçadas e confiscos. Os nazistas emitiram decretos para manter uma cobertura legal, em particular para itens saqueados de judeus. [...]
Com o passar do tempo, as agências de saque nazista ampliaram sua operação à escala industrial. Como Napoleão e outros conquistadores antes dele, o Führer acreditava que a propriedade de obras de arte projetava poder e um senso de conhecimento superior, colocando-o, assim, entre os grandes homens da história.
Em 1943, os exércitos de Hitler invadiram a Itália e com isso, tomaram controle de alguns dos maiores tesouros da humanidade. A partir desse momento, os tesouros do Vaticano e as relíquias do antigo Império Romano, estavam a disposição dos nazistas para saquearem a vontade. E é exatamente isso que eles fazem. Quando as forças Aliadas estão se preparando para invadir a Itália, o general Dwight Eisenhower, comandante em chefe das Forças Aliadas no norte da África, deu poderes a alguns soldados de protegerem essas riquezas. Em maio de 1944, Deane Keller, professor de arte e caçador de obra-prima para os EUA, e Fred Hartt, historiador de arte e caçador de obra-prima na Toscana, saem de Nápoles e embarcam numa caçada pelas obras-primas roubadas e desaparecidas valendo milhões de dólares.
Quando a guerra já estava perdida para a Alemanha, chegaram ordens dos mais altos escalões nazistas para se transportar caminhões carregados de obras de arte para o norte, em direção ao território alemão. No entanto, o general Karl Wolff, desejoso de não cair junto com Hitler, impede que as grandes coleções dos museus Galleria Uffizi e Palácio Pitti saiam do território italiano, buscando negociar uma rendição secreta.
A Alemanha nazista havia chegado ao abismo – nenhum futuro e nenhuma saída. Muitos integrantes do círculo imediato de Hitler se preparavam para o pior. Não querendo ligar sua sobrevivência ao destino do Führer, Karl Wolff havia elaborado um plano secreto de oferecer a rendição de um exército alemão inteiro – cerca de 1 milhão de homens na Itália – aos aliados ocidentais. [...]
Esse livro é uma maravilha para quem gosta de arte e história. Além de dar detalhes das missões de resgate e preservação de monumentos, lugares e obras artísticas e históricas dentro da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, o autor também fornece no livro algumas imagens da destruição dos lugares mais afetados durantes os bombardeios na guerra.
Se eu, que não nasci na Itália, fiquei impactada com o nível de destruição dos lugares, imagine os florentinos vendo o resultado das bombas em sua cidade (a destruição das pontes de Florença está além de triste, quando se tem noção do nível da perda histórica):
O repórter do New York Times Herbert Matthews obser vou que “Florença não é mais a Florença que o mundo conheceu por 400 anos. (...) o coração de Florença desapareceu”. De suas seis pontes – San Nicolò, alle Grazie, Vecchio, Santa Trinita, alla Carraia e alla Vittoria, só a Ponte Vecchio sobreviveu. [...]
Comparação das pontes antes e depois dos bombardeios. Observem a “ponte Bailey” construída sobre os pilares de pedra sobreviventes da Ponte Santa Trinitá [Ao alto: Bayerische Staatsbibliothek Munich/ Heinrich Hoffman; Abaixo: Pennyover Papers, Department of Art and Archaeology, Princeton University]
Ao longo do livro, se percebe a dificuldade gritante da seção Monuments, Fine Arts and Archives (MFAA) em tentar preservar os locais, tanto que guardavam as obras de arte quando os que eram por si só essas obras.
Tomamos o sempre presente espetáculo de uma cidade arruinada e o multiplicamos por tantas outras cidades na Europa, e é como se a tarefa de reconstrução jamais fosse ser feita. E a perda de obras de arte é insubstituível – belas igrejas destruídas, arquivos enterrados sob o entulho, bibliotecas expostas ao tempo e ao roubo... este trabalho parece tão mais importante e tão irremediavelmente imenso. E, sozinho, sinto-me como sete criadas com sete vassouras no meu cantinho... certamente ajudaria se o resto do país se rendesse sem combate.
Foi incrível ver como poucas coleções sobreviveram ao saque, e nisso se inclui o enorme tesouro do Vaticano. Fiquei surpresa, apesar de que não deveria ter ficado, com o ponto em que Göring, um colecionador mais variado que Hitler (e que durante os anos de 1940 a 1942 havia feito 20 visitas separadas ao depósito principal da ERR de obras roubadas em Paris, o Museu Jeu de Paume, para fazer seleções para sua própria coleção) estava disposto a chegar para que ninguém nunca mais as encontrasse no fim da guerra.
Enquanto o Generalfeldmarschall Kesselring evacuava as tropas de seu quartel-general militar em Adlerhorst, o Reichsmarschall Göring supervisionava o empacotamento final de sua coleção de arte em Carinhall. Dois carregamentos já haviam partido para Veldenstein, na Bavária; de lá, os trens viajariam para Berchtesgaden, onde Göring também tinha uma casa. [...]
Em 28 de março, as obras-primas de Nápoles roubadas de Monte Cassino chegaram a seu destino final – o repositório nazista em Altaussee, na Áustria. Mineiros levaram para o labirinto de túneis milhares de pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, peças de mobília e tapeçarias, muitas destinadas ao Führermuseum, de Hitler.
Duas semanas depois, oito caixotes de madeira pertencentes ao gauleiter August Eigruber chegaram em dois carregamentos, cada um pesando 500 quilos, marcados com a advertência ATENÇÃO! – MÁRMORE – NÃO DEIXAR CAIR. Mais uma vez, os mineiros carregaram os novos carregamentos pelas passagens estreitas de túneis, todavia, desta vez, receberam a estranha ordem de espalhar os caixotes pela mina, em vez de colocá-los juntos. Tivessem eles sabido que cada caixote continha uma bomba, não uma escultura em mármore, estas instruções teriam feito sentido. Eigruber – como Wolff, Himmler e Kaltenbrunner – tinha seu próprio plano. Em vez de permitir que as obras caíssem nas mãos do “judaísmo internacional”, ele destruiria a mina de sal e cada obra de valor inestimável armazenada em seu interior.
Nápoles, Florença, Pisa, Toscana, praticamente nenhum lugar escapou de algum grau de destruição de monumentos e roubo de artes. À medida que os Monuments Men chegavam no local e realizavam suas inspeções, anotavam a perda de coleções públicas e particulares. Com a derrota dos nazistas e fascistas, muitos sítios culturais passaram a precisar de inspeções e os trabalhos dos Monuments Men se tornou muito requisitado. Achei interessante que, apesar de durante a guerra, se tivesse que se escolher entre vidas humanas e lugares históricos se escolheria a vida humana, as pessoas dos lugares que o grupo visitava apreciavam os esforços de preservação. E quando a guerra terminou, o autor consegue descrever a emoção das pessoas quando as obras eram devolvidas aos seus lugares de origem.
Não tenho palavras para dizer o quanto eu gostei dessa leitura. Foi ótimo aprender mais sobre esse capítulo tão aterrador da história humana, de uma perspectiva diferente. Completamente recomendado.