27 de abr. de 2020

Lendo o Brasil: ESPÍRITO SANTO – Os melhores contos (Rubem Braga)


São 39 contos, mais ou menos curtos, que abordam temas variados, mas principalmente do cotidiano. O livro é um dos menores que já li para esse desafio, então só o que tenho para falar é que eu curti. Os contos não tem grandes problematizações ou reviravoltas, e os contos são bem curtinhos. Nunca fui fã do autor, e mesmo já tendo visto obras deles nas bibliotecas onde trabalhei, ainda não havia me interessado em ler. Valeu a pena para conhecer.

Editora Global.
162 páginas.

24 de abr. de 2020

Lendo o Brasil: SANTA CATARINA – Diário de classe (Isadora Faber)

Sinopse: Aos 13 anos, Isadora Faber, uma estudante de escola pública de Florianópolis (SC), indignada com os problemas de ensino e infraestrutura de seu colégio resolveu criar uma página no Facebook, o Diário de Classe, para denunciá-los. Chamou a atenção da imprensa nacional e internacional, mobilizou milhares de seguidores e conseguiu as mudanças que reivindicou. Sua jornada, no entanto, foi árdua: sofreu críticas, ameaças, represálias, agressões e processos. Porém, não desistiu, e hoje tem mais de 625 mil seguidores, inspirou a criação de mais de cem Diários de Classe, já participou de inúmeras palestras e eventos, ganhou prêmios e fundou a ONG Isadora Faber, com a qual continua seu trabalho por uma educação pública de qualidade no Brasil. Mais que um relato de coragem e do poder do webativismo, este livro é um retrato perturbador da situação da educação e dos serviços públicos brasileiros, que grita por cidadania e por transformações urgentes.


Encontrei esse literalmente por pura sorte. Eu já tinha outros autores em mente de indicações que peguei, mas encontrei esse e tive que deixar os outros de lado. Depois que vi que ele tinha uma boa pontuação no skoob, fiquei mais curiosa ainda. Achei o máximo uma garota de 13 anos simplesmente colocar a boca no trombone sobre tudo que via de errado em sua escola. Melhor ainda quando conseguiu visualização tanto aqui dentro quanto lá fora (porque parece que a coisa só toma jeito depois que cai nas mãos da imprensa, isso é triste). Também achei muito bacana o posicionamento dos pais dela, que a apoiaram em tudo. Valeu muito a pena essa leitura, serve como reflexão para o que nós andamos fazendo (nos acomodamos ou nos mexemos para conseguir as mudanças que queremos?). Completamente indicado.

Editora Gutenberg.
272 páginas.

22 de abr. de 2020

198 livros: IRÃ – Persépolis (Marjane Satrapi)

Marjane Satrapi nasceu em uma família politizada e moderna, o que fez com que ela desde pequena fosse engajada. Aos 10 anos de idade, ela passa a usar o véu, sem saber porque exatamente, e passa a testemunhar o início de uma revolução islâmica, quando o regime xiita começa a ser “implantado” em países como o Irã (antiga Pérsia). Temerosos da situação no país, seus pais a mandam para estudar fora. Na Áustria, ela fica chocada com os costumes ocidentais, mesmo que, para os padrões, sua família fosse considerada liberal. Ao voltar para o Irã na tentativa de reencontrar sua identidade, ela vê os atos de resistência da população.


Como é um livro biográfico em formato de HQ, fica fácil e complicado ao mesmo tempo fazer uma resenha sem dar spoiler. Fácil porque é biografia, e complicado porque como HQ a história fica mais “resumida” do que se fosse contada em forma de texto, o que pode levar a se falar dela mais do que se deve... O que eu tenho que dizer com certeza é que as histórias são de fácil entendimento, e o ponto forte fica por conta da arte gráfica, que se inspira na arte persa. Outro chamariz é que a autora não se prende a falar somente do Irã da sua época, mas também aborda bastante sua história antiga. HQ pra lá de recomendada.

Editora Companhia das Letras.
352 páginas.

20 de abr. de 2020

A guerra não tem rosto de mulher (Svetlana Alexievich) – DLS 2020


Título: A guerra não tem rosto de mulher
Autora: Svetlana Alexievich
Mês: Abril
Tema: Um livro de um autor vencedor ao nobel de literatura
Editora Companhia da Letras, 392p.

Vou dizer o seguinte: sem ser mulher não dá para sobreviver na guerra.

Elas foram atiradoras de elite e enfermeiras. Desarmaram minas terrestres e bombas. Foram pilotas, médicas de campo, oficiais de comunicação. Estas mulheres combateram com os filhos nas costas. Em relatos curtos e médios (às vezes contidos e não tão honestos), a autora fala que as mulheres tiveram que lidar com piolhos, lama e sangue, que endurecia e causava bolhas (já que elas não tinham como trocar de roupa). Esses relatos dão voz a história das mulheres que lutaram no exército vermelho durante a Segunda Guerra Mundial.

A vila da minha infância depois da guerra era feminina. Das mulheres. Não me lembro de vozes masculinas. Tanto que isso ficou comigo: quem conta a guerra são as mulheres. Choram. Cantam enquanto choram.

OMG! Depois de ler Vozes de Tchernóbil, achei que estava preparada para mais um livro desta autora. Até porque não é a primeira vez que leio um livro sobre guerra. Não achei que fosse possível, mas esse livro conseguiu me chocar mais do que o primeiro. Foi difícil até resenhar, dada a quantidade de questionamento que ficou na minha cabeça depois que terminei de ler. O relato é brusco, fala com uma franqueza absoluta sobre o efeito da guerra na vida dessas mulheres. Mesmo assim, não se ignora o lado feminino delas (elas queriam estar bonitas). Um livro completamente arrebatador, muito recomendado.

17 de abr. de 2020

O tigre branco (Aravind Adiga) – DLL 2020


Título: O tigre branco
Autor: Aravind Adiga
Mês: Abril
Tema: Um livro de autor indiano
Editora Pocket Ouro, 331p.

Balram nasceu em uma casta de doceiros na Escuridão, uma parte pobre da Índia. Cansado da vida de pobreza, ele “ascende” socialmente e vira um “empresário” de sucesso, enquanto também vira um procurado pela polícia e coloca sua família em risco. Em sete noites, ele escreve uma carta ao primeiro-ministro chinês contando como ele descobriu o caminho para o seu sucesso, ao jeito de um tigre branco.

Esse livro não foi nada do que eu esperava ou imaginava, como acontece com a maioria desses escritores internacionais com os quais eu tenho contato uma vez ou outra. Muito bem escrito, o livro traz uma crítica a situação social e moral da Índia, a narrativa traz um humor negro forte. O personagem falando de si é ao mesmo tempo cínico e divertido, porque ele simplesmente não tem medo de se expor. É sempre bom encontrar livros com histórias que desmistifiquem certos lugares, como foi o caso desse, que afastou aquela ideia que temos do misticismo que envolve os indianos que a mídia nos passa. Só por isso, o livro já valeria a pena. Recomendado.

15 de abr. de 2020

Infiltrado na Klan (Ron Stallworth) – DLL 2020


Título: Infiltrado na Klan
Autor: Ron Stallworth
Mês: Abril
Tema: Um livro com um personagem negro
Editora Seoman, 207p.

Se um homem negro, auxiliado por um punhado de brancos e judeus bons, decentes, dedicados, de mente aberta e liberais, pode conseguir prevalecer sobre um grupo de racistas brancos, fazendo-os parecer os idiotas ignorantes que realmente são, então imagine o que uma nação de indivíduos que compartilham das mesmas ideias pode conseguir. [...]

Ron Stallworth foi o primeiro detetive negro de Colorado Springs, Colorado, EUA. Em 1970, ele decidiu participar do programa de cadetes do Departamento de Polícia, que recrutava minorias. Tendo consciência de que ele sofreria ofensas de todo tipo devido a sua cor de pele, Ron começa a trabalhar numa operação que se tornaria muito importante e onde ele conseguiria um feito inédito: um policial negro se infiltrando na Ku Klux Klan. 
Sua carreira começa ao investigar os Panteras Negras, cujo líder, Stokely Carmichael, estaria em Colorado Springs para um discurso. Como o único negro no departamento, Stallworth era o único policial negro que poderia se infiltrar e trabalhar disfarçado. Três anos depois, ele encontra um anúncio no jornal da KKK recrutando cidadãos. Ele liga para o telefone do anúncio e começa aí uma investigação muito interessante. 
Na época, a KKK buscava novos participantes, se declarando como uma organização não-violenta (mesmo pregando ódio aos judeus, negros todo tipo de intolerância). Com ajuda de todo o departamento, Ron conseguiu se infiltrar com sucesso, mesmo tendo que usar o rosto de Chuck, um policial que trabalhava disfarçado em Narcóticos, e começou suas conversas com David Duke, presidente da Ku Klux Klan.

É importante para mim explicar que David Duke foi e é um homem cujo nome até hoje é sinônimo de ódio no atual cenário político e midiático. Um homem que logo me consideraria um “amigo”. [...]
A aparência dele era a de um típico garoto americano que toda mãe desejaria como acompanhante de sua filha no baile de formatura. Ele sempre estava bem arrumado, era bem-comportado (pelo menos em público), articulado e instruído, com um mestrado. Sua aparência de doutor Jekyll desmentia a personalidade de senhor Hyde e seu ponto de vista em questões raciais comuns ao âmago do clima social e político dos Estados Unidos. Publicamente, ele não falava sobre ódio, mas sobre herança e história. Ele gerou um novo racismo para as massas de direita, que unia a antipatia aos negros e outras minorias à insatisfação geral com o governo e ao medo de um mundo complexo em constante mudança.

Eis o posicionamento de Duke:

Como ele afirmou num artigo da revista Oui, por volta de 1979, “Eu não estou pregando a supremacia branca”, embora tenha dito que acreditava firmemente que os brancos são superiores aos negros e outras minorias. “Eu estou pregando o separatismo branco. Gostaria de ver todos os negros voltarem para a África, que é o lugar a que pertencem, mas eu estaria disposto a dar a eles parte deste país — alguns estados, talvez — contanto que tivessem uma sociedade separada.”

Esse livro foi minha primeira opção para o desafio. Comprei ano passado, quando queria ter visto o filme que indicou Adam Driver ao Oscar, mas acabou não chegando aqui. Vi o filme antes de ler o livro, então fiquei esperando uma adaptação (livro para filme), mas não. O livro conta sim a história do filme (um policial negro que se infiltra na Ku Klux Klan), mas dá muito mais detalhes. Foi bom descobrir a quantidade de coisas que eles descobriram na época sobre a Klan e o grau de burrice dos integrantes do grupo, cegos pela própria ignorância e prepotência. De certa forma, esse livro me lembrou muito um que eu li ano passado, A lista de Schindler, e de como foi fácil para Mietek Pemper desmentir, acusar e provar os relatos de acusação contra Göth e outros nazistas durante o julgamento deles (pois ele trabalhou muito perto de Göth enquanto foi prisioneiro).
Essa foi uma das expressões máximas da burrice do presidente da Ku Klux Klan nessa época:

[...] Às vezes, meus telefonemas a David Duke eram conversas leves e pessoais [...] Às vezes, minha conversa era educativa, com um tom cômico e racista. Uma vez perguntei ao “senhor Duke” (todos se referiam a ele de forma reverente como “senhor”) se ele se preocupava que algum “crioulo” metido a esperto telefonasse para ele fingindo ser branco. Ele respondeu: “Não, eu sempre sei dizer quando estou falando com um crioulo”. Quando perguntei como ele poderia ter certeza disso, ele afirmou o seguinte: “Veja o seu caso, por exemplo. Sei que você é um homem branco puro e ariano pela maneira como fala, pelo modo como pronuncia certas palavras e letras”.

Foi engraçado e até irônico constatar o posicionamento de certos integrantes da KKK que Ron menciona no livro. O que mais me chamou atenção foi o do bombeiro Fred Wilkens:

[...] Wilkens sempre fora claro ao separar suas ações profissionais de suas convicções pessoais, e as autoridades da cidade só podiam expressar seu descontentamento em relação a ele de forma limitada. Conforme afirmou com clareza no artigo da revista Denver, “Como bombeiro, estou numa posição difícil. Existem algumas pessoas que gostariam de me ver perder o emprego. Mas é meu direito constitucional acreditar no que acho ser certo, e vou continuar dando o máximo de mim para atuar como um bom bombeiro. Meu trabalho é proteger as vidas e propriedades de todos os cidadãos, tanto brancos como grupos minoritários. É exatamente isso o que vou fazer. As pessoas me perguntam se sou racista e eu digo que depende de como você define a palavra. Se você a define como alguém que odeia raças, eu definitivamente não sou. Se a define como alguém que ama sua própria raça, então com certeza sou”. [...] 
Como Duke, ele queria popularizar a Klan, afirmando que “a Klan não deseja se opor ou suprimir qualquer raça, mas acredita que, para cada um desenvolver seu pleno potencial, elas deveriam fazê-lo separadamente. Por isso, a Klan é totalmente contra a integração racial e o casamento inter-racial... uma separação total das raças para benefício mútuo”.

Um dos momentos mais divertidos do filme e (para minha surpresa) do livro também é o momento em que o verdadeiro Ron Stallworth, atuando como segurança de David Duke, pede uma foto, enquanto Chuck, o falso Ron, é quem tira a foto. No livro, essa parte conseguiu ser mais tensa e transmitir toda a posição racista KKK. Me surpreendi de várias maneiras lendo esse livro, e todas de forma muito positiva. Leitura muito indicada.

13 de abr. de 2020

Cranford (Elizabeth Gaskell) – DLL 2020


Título: Cranford
Autora: Elizabeth Gaskell
Mês: Abril
Tema: Um livro clássico da literatura
Editora Pedrazul, 214p.

Cranford é uma cidade (fictícia) da Inglaterra do século XIX que é dominada pelas mulheres, solteironas ou viúvas.

[...] Se um casal se muda para a cidade, por algum motivo, o cavalheiro acaba desaparecendo; ou ele se assusta por ser o único homem presente nas festas de Cranford, ou se vê envolvido com seu regimento, navio, ou cuidando de negócios a semana inteira em Drumble, a grande cidade comercial vizinha, que fica à distância de 20 milhas de trem. Resumindo, seja lá o que aconteça com os homens, eles não ficam em Cranford. [...]

Mary Smith é uma visitante de Cranford, para onde sempre vai visitar suas amigas. Os homens em Cranford nunca são da alta sociedade, somente as mulheres. Elas vivem com dignidade com os poucos recursos que tem, mantendo regras de etiqueta que tentam seguir a risca.

Não sei se é porque eu sempre fico esperando uma história como o romance entre Mr. Thornton e Margareth, mas não consigo pegar o embalo de outros livros de Elizabeth Gaskell. Não me entendam mal, Cranford é um livro bom, mas eu sempre fico comparando com Norte e Sul, o que é errado e acaba tirando o mérito do outro, mas acabo fazendo isso inconscientemente. Talvez por isso não tenha conseguido aproveitar essa leitura da forma que deveria. Eu me diverti em algumas partes e gostei da simplicidade da história. Mas ficou nisso.

10 de abr. de 2020

Nós quatro e o amor (Fabiane Ribeiro) – DLL 2020


Título: Nós quatro e o amor
Autora: Fabiane Ribeiro
Mês: Abril
Tema: Um livro que comece com a primeira letra do seu nome
Editora Universo dos Livros, 303p.

Patrícia e Laura são melhores amigas. Elas conhecem Matthew e Diego num bar à beira de um lago quando Patrícia volta para os Estados Unidos depois de passar um tempo no Brasil. Os quatro se dão bem logo de cara. Patrícia, uma odontóloga com um grande segredo, se identifica com o biotecnólogo Matthew, cujo passado é cheio de traumas, enquanto Laura, artista plástica com más relações familiares, se identifica com Diego, o dançarino colombiano que não fala sobre seu passado. A amizade entre eles evolui, mas a relação entre os casais acabam se complicando quando outras ligações entre eles surgem. Um sério acidente com Matthew faz com que os quatro amigos reavaliem suas vidas.

Como não podia deixar de ser com um livro da Fabiane Ribeiro, essa história é carregada de emoções. A relação entre os amigos começa simples, e eu achei que fosse continuar assim, mas ela consegue dar uma reviravolta na história, não só pelos novos rumos nos relacionamentos, mas pelos próprios segredos dos personagens. Algumas situações eu torci para serem revertidas, mas no conjunto, gostei que ficaram “mal resolvidas”, porque, afinal, é isso que acontece na vida real. Li em pouco tempo, completamente indicado.

8 de abr. de 2020

Olimpíadas da biblioteca do Sr. Lemoncello (Chris Grabenstein) – DLL 2020


Título: Olimpíadas da biblioteca do Sr. Lemoncello
Autor: Chris Grabenstein
Mês: Abril
Tema: Um livro de capa roxa ou lilás
Editora Bertrand Brasil, 285p.

Depois de ganharem a competição promovida pelo bilionário excêntrico Luigi Lemoncello, o time Kyle ficou famoso. Kyle e seus amigos estrelam os comercias dos jogos do inventor, e parecem curtir toda a atenção que recebem. Só que não são todas as pessoas que estão felizes com o sucesso do grupo. Muitas pessoas acham que o jogo na biblioteca não foi justo e que deveria ter abarcado mais gente. Quando o Sr. Lemoncello anuncia a realização de uma olimpíada na biblioteca, cujo prêmio são os estudos da faculdade pagos, jovens dos 50 estados norte-americanos se unem para a competição. Enquanto isso, o bilionário tem que lidar com um grupo de fanáticos que não acham que as inovações na biblioteca deveriam existir, e visam conseguir uma maneira de gerenciar a biblioteca.

Adorei! Uma continuação tão boa que me fez ir atrás da editora para saber se e quando os livros da série serão publicados aqui (a resposta foi que no momento, não). Gostei do autor utilizar na narrativa os pontos de vista de vários personagens, ao invés só de Kyle e seu time. Para quem gosta de bibliotecas, o livro é um chamariz porque acaba tratando da questão de como uma biblioteca deve se posicionar no tempo em que é criada. Ela deve só servir como lugar de leitura e empréstimo de livros (o objetivo do grupo chato que passa o livro perturbando o Sr. Lemoncello) ou deve inovar para chamar atenção e trazer cada vez mais pessoas? Adorei a leveza com que o autor trata essa situação. Livro muito recomendado.