Título: Falsa acusação: uma história verdadeira
Autores: T. Christian Miller e Ken Armstrong
Mês: Janeiro
Tema: Um livro ganhador do Prêmio Pultizer
Editora Leya, 336p.
Sinopse: Um livro eletrizante, importante e perturbador, Falsa acusação é baseado numa história real e num artigo vencedor do Prêmio Pulitzer de jornalismo investigativo, que foi publicado no site de uma ONG na internet e viralizou em questão de horas. Como num episódio de Law & Order, os jornalistas T. Christian Miller e Ken Armstrong acompanham o trabalho incansável e a dedicação de duas detetives para colocar um estuprador em série na cadeia e dar voz às suas vítimas – fazendo também uma análise da maneira ultrajante como as mulheres são tratadas quando denunciam casos de violência sexual. Narrado em ritmo de thriller, Falsa acusação está sendo adaptado pela Netflix na série Unbelivable, prevista para estrear em 2019.
Essa é uma história da qual já ouvimos falar inúmeras vezes: uma mulher, vítima de estupro, vai à polícia fazer uma denúncia e acaba sendo interrogada com desconfiança pelos policiais – como que roupa você estava?, o que estava fazendo na rua a essa hora?, por que abriu a porta?, qual a quantidade de bebidas alcoólicas e substâncias entorpecentes que você tinha ingerido?, por que você está querendo chamar atenção? A única pergunta que falta nessa lista é: até quando isso vai acontecer?
Em 11 de agosto de 2008, Marie, de 18 anos, foi à polícia denunciar que um homem mascarado entrou em seu o apartamento e a estuprou. Depois de alguns dias, a polícia, e até mesmo algumas pessoas próximas, começaram a desconfiar da história. Os policiais rapidamente mudaram o rumo da investigação e passaram a interrogar a adolescente, que passou de vítima a suspeita. Confrontada com as inconsistências do seu relato e as dúvidas de todos, ela voltou atrás e disse que tinha mentido, que tudo não tinha passado de uma tentativa de chamar atenção. A polícia a acusou de ter feito uma denúncia falsa – e Marie foi taxada de mentirosa e execrada por todos.
Mais de dois anos depois, Stacy Galbraith, detetive de Golden, no Colorado, é designada para investigar um caso de estupro. Ela se junta a Edna Hendershot, detetive responsável por outro caso semelhante, e logo descobrem que estão às voltas com um estuprador em série. As duas detetives se dedicam a uma intensa investigação e acabam relacionando esse criminoso a inúmeros outros casos de violência sexual ainda não solucionados nos Estados Unidos.
Baseado nos arquivos da investigação policial e nas entrevistas com todos os envolvidos, Falsa acusação apresenta uma história cheia de reviravoltas, dúvidas, estigmas, mentiras e, acima de tudo, um profundo desejo de justiça. Além disso, lança no ar o grito de desespero das vítimas de violência de sexual que costumam encontrar mais desconfiança, olhares e palavras de acusação do que dedicação profissional e empatia.
Para Joanne Archambault, CEO da End Violence Against Women International, organização que combate a violência contra mulheres, T. Christian Miller e Ken Armstrong “mostram como a questão de gênero e os vários mitos sobre a violência sexual ainda influenciam – e muito – a maneira como as autoridades responsáveis investigam esses crimes, prejudicando ainda mais as vítimas e permitindo que os criminosos continuem em liberdade e possam cometer mais crimes. Esse livro brilhante é também o relato de uma investigação que só dá certo por causa de duas detetives que acreditam nas vítimas e não desistem de fazer justiça. Bem fundamentado e emocionante, Falsa acusação é uma leitura essencial.”
O que se pode escrever na resenha de um livro sobre o qual a sinopse já diz tudo e qualquer coisa que você escreva parece spoiler? Apesar de fugir de temas polêmicos nas minhas escolhas de leitura, este livro foi o mais atrativo na lista dos vencedores mais atuais do Prêmio Pultizer. Violência sexual, a questão do gênero, são assuntos que se discutem bastante hoje em dia, e o livro prende a atenção pela quantidade de informações, que mostram a quantidade de casos não resolvidos, além de mostrar o quanto o sistema ainda age de forma muito preconceituosa com as vítimas, na maioria das vezes as transformando em culpadas nesse nosso mundo culturalmente patriarcal. Fiquei curiosa para ver a série da Netflix (o episódio de Law & Order eu já vi e confesso que me deixou muito insatisfeita com o fim dele). 2021 mal começou, mas já posso afirmar que este foi uma das melhores leituras do ano.