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28 de dez. de 2020

Lendo o Brasil: RONDÔNIA - Viva apaixonadamente (Augusto Branco)


Este livro reúne uma coleção de textos que são verdadeiras pérolas de sabedoria para os mais significantes momentos da vida. Uma leitura inspiradora que motiva todos a viverem mais, melhor. O livro é pequeno, e na verdade foi uma sorte encontrar ele enquanto navegava pelo site do Clube de autores. Como a última leitura de um desafio que me fez dar de cara com autores que nunca tinha ouvido falar, achei o livro apropriado para fechar o ano e a lista de leituras do Lendo o Brasil. Indico também.

Editora Clube de autores.
72 páginas.

25 de dez. de 2020

Lendo o Brasil: AMAPÁ - Desapaixonante (Marvin Cross)

Sinopse: Desapaixonante-1a temporada é o primeiro volume de uma série literária sobre o casal de amigos Sávio e Milena que comandam uma agência especializada em ajudar as pessoas a se desapaixonarem. Sempre narrados de acordo com os pontos de vista de um dos protagonistas, os episódios são sempre repletos de humor, sarcasmo, críticas à sociedade moderna e muitas referências a músicas e cultura pop. Uma história para rir e desestressar.


No que diz respeito a esse desafio, Desapaixonante foi a surpresa do ano. A leitura foi simples e cativante, e sim, mesmo tendo gostado do livro, não sei se iria continuar a leitura da série. Talvez leia por simples curiosidade, porque logo que percebi qual era o tema, tive aquela sensação de que “esse livro vai ser divertido”. E foi mesmo, ainda mais porque a história é narrada pelo ponto de vista de cada um dos protagonistas. Vale muito a pena, recomendado.

Editora Skull.
132 páginas.

23 de dez. de 2020

198 livros: INGLATERRA – Como parar o tempo (Matt Haig)

Tom Hazar é um homem com a aparência de um quarentão, mas a realidade é outra: ele têm mais de séculos de vida. Não envelhecer é o seu grande segredo. Por isso, ele é obrigado a viver fugindo, se escondendo e adquirindo novas identidades a medida que o tempo passa. Acima de tudo, a regra primária de sua vida é: não se apegar a ninguém, não se apaixonar. Graças a problemas da sua época de origem, Tom não achava essa regra difícil de seguir, até ficar cansado e querer dar alguma razão a sua longa existência. Quando resolve voltar a Londres e se tornar professor de história, ele nem imagina que essa regra que regeu sua vida desde muito tempo antes pode estar ameaçada.


A primeira regra é não se apaixonar.

Eu já havia lido um livro parecido com esse, e de novo por causa de uma adaptação: Um conto do destino, porque gostei de Colin Farrel fazendo um personagem romântico. Eu só fui atrás de Como parar o tempo porque ouvi dizer que Benedict Cumberbatch, outro ator favorito, irá protagoniza-lo (e eu já consigo imaginá-lo totalmente nesse papel). A temática de volta ao tempo foi melhor aproveitada neste livro, devo dizer e mesmo sem querer comparar os dois romances na minha cabeça, não dá para evitar pois as semelhanças são muitas. Enfim. Sobre o livro. Gostei de como o autor entremeou a narrativa entre presente e passado, e de como o protagonista vivenciou situações no presente que o remetiam para o passado tumultuoso dele (o que mostra que ninguém se livra de seu passado. Ok, muito filosófico isso).

Editora HarperCollins Brasil.
320 páginas.

21 de dez. de 2020

Além dos reinos (Chris Colfer) – DLLC 2020


Título: Além dos reinos
Autor: Chris Colfer
Mês: Dezembro
Tema: Um livro com um portal para outro mundo
Editora Benvirá, 370p.

Depois que a Grande Armée foi vencida e Alex se viu cara a cara com o Homem Mascarado, ela ficou obcecada para ter certeza de que o vilão é quem ela pensa que é. Quando ela tenta convencer as fadas a continuar a busca pelo Homem Mascarado, que resolveu se unir as bruxas para destruir o mundo mágico, é proibida sob pena de crime e acaba perdendo o controle dos s seus poderes. Enquanto isso, no OutroMundo, Bree Campbell descobre segredos sobre sua própria família, e isso acaba se tornando perigoso para ela e seu amigo Emmerich, que também tem uma ligação com o mundo da magia... De volta a Alex e Conner, os irmãos, agora de posse da verdadeira identidade do Homem Mascarado, viajam pelos reinos encantados tentando deter o inimigo.

Esse livro, como todos os livros dessa série até agora, me deixou numa ansiedade enorme. A história é muito envolvente, e a questão das viagens entre os reinos mágicos, ao entrar nos livros que contém as histórias, acho que é uma coisa que todo leitor voraz já sonhou em fazer :) Adorei cada minuto, o autor consegue prender completamente a atenção. E também como não podia ser diferente, esse livro termina com um mistério que (espero) seja solucionado no próximo volume. Totalmente recomendado.

18 de dez. de 2020

Neruda para jovens (Pablo Neruda) – DLS 2020


Título: Neruda para jovens
Autor: Pablo Neruda
Mês: Dezembro
Tema: Um livro de poesias
Editora José Olympio, 155p.

Sinopse: "Gosto quando tu calas porque estás como ausente, e me ouves desde longe, e minha voz não te toca. Parece como se teus olhos houvessem voado e parece que um beijo te fechara a boca. [...]
Deixa-me que te fale também com teu silêncio claro como uma lâmpada, simples como um anel! És como uma noite mais calada e constelada. Teu silêncio é de estrela, simples, longe do céu."
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada.

Dentre os escritores chilenos que eu encontrei, Pablo Neruda foi o melhor indicado. Durante as buscas por algum livro dele que me chamasse atenção, encontrei alguns de poesia mas como o estilo não é meu forte continuei procurando... E acabei escolhendo esse (ironia). Acho que o que acabou me convencendo a escolher esse foi o fato da edição ser bilíngue, o tipo de livro que eu adoro. Sobre os poemas, são carregados de melancolia e uma ternura muito fortes. Recomendo.

16 de dez. de 2020

A história da família de Anne Frank (Mirjam Pressler) – DLL 2020

 


Título: A história da família de Anne Frank 
Autora: Mirjam Pressler 
Mês: Dezembro 
Tema: Um livro de autor alemão 
Editora Record, 404p. 

O diário de Anne Frank é um dos livros mais conhecidos e marcantes do século XX. O relato de uma menina judia sobre o tempo em que ficou com sua família e alguns desconhecidos escondida em um anexo secreto durante alguns anos da Segunda Guerra Mundial ainda hoje emociona leitores mundo afora. Quase um século depois, no sótão da casa de um de seus primos, Buddy Elias, foram encontrados maços de documentos, cartas e fotos sobre a família Frank. Através desses papéis, traça-se um relato da vida de uma das famílias judaicas mais famosas que foram vitimadas pelo holocausto. 

"Quem poderia saber disso antes?", respondeu Otto em voz baixa. "Quem poderia imaginar uma coisa assim?" Então Erich falou que todos eles deveriam ter sabido disso, pois os nazistas nunca esconderam o ódio em relação aos judeus. "O mais tardar depois das leis de Nuremberg, teríamos de saber disso; o caminho para Auschwitz passava diretamente por Nuremberg. E, aliás, Hitler já havia formulado isso claramente em seu livro Mein Kampf. Antes mesmo da guerra, um cliente mostrou-me o parágrafo que até hoje ainda sei de cor. Dizia claramente: ‘Os alemães são uma raça de homens superiores, que foram eleitos para dominar, escravizar ou dizimar pessoas de raças inferiores.’” Erich calou-se e, em seguida, acrescentou: “Naturalmente, ele se referia sobretudo a nós, os judeus, isso estava claro. No entanto, ninguém poderia imaginar que urn povo, que tinha produzido um Goethe e um Schiller na literatura, fosse capaz de uma barbárie assim."

Tudo que é relacionado a Anne Frank me interessa. Fazia um tempo que eu andava louca para ler esse livro, e foi uma sorte poder encaixá-lo em um tema do desafio esse ano. Só posso dizer que esse livro foi uma verdadeiro achado! Quando se pensa em holocausto, impossível não pensar em Anne Frank e na sua família, vivendo por dois anos escondida em um anexo de uma empresa. O que nunca se pensa é na família que ficou fora desse esconderijo. Pois bem, esse livro, dividido em três partes, cada um correspondendo a uma pessoa da família (Alice Frank, mãe de Otto e avó de Anne; Helene Elias, irmã de Otto e tia de Anne; Buddy Elias, primo de Anne), faz uma volta ao tempo, falando da família Frank desde o tempo do tataravô de Anne até Buddy Elias, primo da menina e um dos poucos que sobraram da família até os dias atuais (Buddy faleceu em 2015). As partes que mais me tocaram foram as partes narradas por Helene (Leni), que pega a época em que eles ficaram desaparecidos (sim, desaparecidos, porque se esconderam e a comunicação com a família cessou) e mais tarde a volta de Otto Frank, com a notícia da morte de sua esposa e filhas: 

Otto Frank perguntava incansavelmente para todas as pessoas que retornavam dos campos de concentração se tinham alguma informação de suas filhas; lia todas as listas que eram publicadas nos jornais; buscava notícias regularmente na Cruz Vermelha, que mantinha um registro atualizado dos sobreviventes e compilava declarações de testemunhas sobre vítimas. Foi uma época terrível, na qual se ficava à espera para ver quem regressava, quem havia tido a sorte de se esquivar da morte e quem se supunha que não estaria mais vivo — um tempo de esperanças, de rumores, de suposições, de verdades atrozes. Finalmente, em 18 de julho de 1945, Otto Frank descobriu o que tinha acontecido com suas filhas. Nas listas da Cruz Vermelha, ele viu a funesta cruz ao lado dos nomes de Margot Betti Frank e Annelies Marie Frank. Ele solicitou o nome e o endereço da mulher que havia dado a informação. 
As suspeitas, que Otto, sem dúvida, já tinha, transformaram-se em certeza. Ele informou a sua família e enviou uma tradução da declaração de Lien Brilleslijper, uma mulher que estivera em Bergen-Belsen juntamente com sua irmã Jannie, onde conhecera Margot e Anne. 

Na parte de Buddy, o relato de Otto sobre a descoberta da morte da esposa, de Margot e Anne, sua decisão sobre publicar o diário e sobre sua vida depois de todo o trauma que sofreu são as partes que prendem muito a atenção. A surpresa do pai ao ler o diário da filha e sua sensação de que não chegou a conhece-la de verdade, isso me tocou de uma maneira forte demais. [

[...]"Anne era uma criança, sem dúvida, mas com uma maturidade intelectual que muitos adultos não têm e que talvez nunca venham a alcançar. Eu não conhecia a minha filha até ler os seus diários. Isto me dói. Eu nunca a conheci realmente, e você, Buddv, tampouco. Nenhum de nós sabia o que se passava em sua cabeça. Para mim, era uma criança que amei, como se ama um filho, embora tenha também frequentemente me irritado com ela. [...] Para mim, ela era uma criança espevitada e despreocupada; o seu lado interior eu não conhecia. Agora é tarde demais para demonstrar-lhe o meu reconhecimento, a minha admiração e o meu orgulho; e isso me dói muito. Ela era uma pessoa muito especial, mas eu só consegui enxergar a criança. Com o seu diário ocorreu algo semelhante: eu o via apenas como o diário íntimo de uma menina, e isso me perturbou muitíssimo, pois também vivi tudo aquilo e, de repente, eu tinha o seu ponto de vista sobre o esconderijo e a situação como um todo. Então, passei alguns fragmentos do diário a meu amigo Albert Cauvern e para o dr. Baschwitz, e também li alguns trechos para Werner e Jetty Cahn. Todos são pessoas que entendem do assunto. Ao ver suas reações, percebi que era muito, muito mais do que o diário ele uma menina em fase de crescimento. Anne equivocou-se muitas vezes; em outras, foi injusta e precipitada no seu julgamento, mas escreveu algo universalmente válido sobre a convivência de pessoas que se encontram em situações-limite e sobre a própria condição humana, a humanidade e a fé na vida. Sim, agora eu estou convencido de que foi acertado publicar o seu diário. E não sou o único."[...] 

E também a vida depois da descoberta e publicação do diário de Anne, e o consequente sucesso, explícito no artigo “Kinderstimme” (A voz das crianças), escrito para o jornal Het Paroot, pelo professor catedrático de história em Amsterdã, dr. Jan Romein:


Por casualidade, chegou às minhas mãos um diário escrito durante os anos de guerra. [...] Se os indícios estão corretos, esta menina, caso ainda estivesse viva, teria se tornado uma talentosa escritora. Ela veio da Alemanha com 4 anos e, dez anos mais tarde, já escrevia num holandês invejável, claro e objetivo. Ela faz uma análise sobre as deficiências da natureza humana — não excluindo as suas próprias de uma maneira tão exata que se viesse de um adulto já seria surpreendente, quanto mais se tratando de uma criança. Ela mostra ainda as infinitas facetas dessa mesma natureza humana, que se encontram no humor, na compaixão e no amor, as quais possivelmente surpreenderiam as pessoas e diante das quais, como ocorre com tudo aquilo que é extraordinário, elas sem dúvida se assustariam, caso essa rejeição e aceitação não fossem tão intimamente infantis. O fato de que esta menina foi sequestrada e morta é para mim uma prova de que nós perdemos a luta contra o nosso lado animal. E perdemos porque não contrapusemos nada de positivo. Nós seguiremos perdendo sempre, independente de que forma a desumanidade nos ameace, se nos mostramos incapazes de contrapor algo positivo. Não é suficiente a promessa de que nunca esqueceremos nem perdoaremos. Da mesma forma, também não basta manter essa promessa. A resistência passiva e negativa é insuficiente e não significa nada. Uma democracia "totalitária" ativa e positiva, no sentido político, social, econômico e cultural, é o único meio de salvação: a construção de uma sociedade em que o talento não seja destruído, reprimido e ocultado, mas sim descoberto, favorecido e promovido, independente de onde ele surja. Apesar de todas as nossas boas intenções, nós estamos tão distantes dessa democracia, quanto estávamos antes da guerra. 

Por vários motivos, A história da família de Anne Frank foi um dos melhores livros de 2020. Encerrei meu ano e o desafio com chave de ouro. Livro completamente recomendado.

14 de dez. de 2020

A história da mitologia para quem tem pressa (Mark Daniels) – DLL 202


Título: A história da mitologia para quem tem pressa
Autor: Mark Daniels
Mês: Dezembro
Tema: Um livro de mitologia
Editora Valentina, 196p.

Sinopse: "Profundamente pesquisado, conciso e didático, A HISTÓRIA DA MITOLOGIA PARA QUEM TEM PRESSA é uma jornada iluminadora pelo mundo fascinante da mitologia. De vastas civilizações a sociedades locais no mundo inteiro, todas criaram um rico catálogo dedivindades, heróis, monstros e mitos. Essas personagens e estruturas contam a história de nossas origens, triunfos e desastres, agindo como ferramentas criativas para comunicar as lições de vida mais importantes. A escala e a dramaticidade desses relatos épicos, aos quais não faltam elencos de criaturas fantásticas e grandes famílias separadas pelo amor e a guerra, dão de dez em qualquer novela moderna. Nesta introdução magistral à mitologia, Mark Daniels explora as antigas histórias dos aborígenes australianos, sumérios, egípcios, chineses, índios norte-americanos, maias, incas, astecas, gregos, romanos e nórdicos, entre outros. 
Desemaranhando a complexa teia de deuses e deusas, divindades menores e monstros, Daniels revela as criaturas e as narrativas do passado que tanta influência exerceram sobre as culturas do presente. Descubra por que Odin, o Pai dos Deuses na mitologia nórdica, estava tão interessado em perder o olho, a importância do mito de Osíris no Antigo Egito, mitos gregos, astecas, chineses, nórdicos, egípcios, romanos, e muito mais. Tudo que você precisa saber sobre mitologia, explicado e introduzido de forma clara, resumida e ilustrada. "

Um livro muito bom. Simples e objetivo, fala de lendas variadas sem preâmbulos e enrolação. Eu achava que falaria muito mais sobre as mitologias grega e romana, como acontece com a maioria dos livros, mas gostei de ver que aborda também mitologias menos conhecidas, como a maori e chinesa. Particularmente, eu gostei muito da lista compilando os deuses gregos e seus equivalentes romanos. Recomendo.

11 de dez. de 2020

O melhor da Disney – DLL 2020


Título: O melhor da Disney: 1950-1952 Brasil
Mês: Dezembro
Tema: Um livro que tenha número na capa
Editora Abril, 193p.

Sinopse: As melhores histórias em quadrinhos Disney publicadas no Brasil em 1950-1951-1952. A edição traz aventuras de personagens variados e inclui materiais extras como textos explicativos.

Adorei esse livro. Traz várias histórias em quadrinhos antigas que foram restauradas e coloridas, algumas originais no Brasil, além de trazer um resumo do que acontecia no mundo e no Brasil durante os anos 1950-52. Infelizmente, essa foi uma das últimas séries publicadas pela editora Abril, logo depois ela abriu falência (falei sobre isso aqui em 2018). A editora Culturama assumiu as publicações Disney, e já está trazendo os gibis Mickey, Tio Patinhas e Donald de volta, mas sobre algumas coleções interrompidas como essa não existe nenhuma notícia (disse algumas porque a Panini assumiu as publicações de Don Rosa e Carl Barks). Valeu muito a leitura, é um livro indicado para qualquer amante dos quadrinhos Disney.

9 de dez. de 2020

Os Romanov (Robert K. Massie) – DLL 2020


Título: Os Romanov: o fim da dinastia
Autor: Robert K. Massie
Mês: Dezembro
Tema: Um livro que você ganhou
Editora Rocco, 269p.

Na madrugada do dia 17 de julho de 1918, Nicolau, Alexandra e seus cinco filhos foram acordados por Yakov Yurovsky e notificados que deveriam ir se esconder no porão da casa onde estavam porque a cidade estava agitada e eles corriam risco de serem atingidos caso houvesse tiroteio nas ruas. Obedecendo as ordens, o czar e sua família se dirigiram ao porão e junto com eles foram o médico da família Eugene Botkin, o valete de Nicolau, Trupp, a camareira de Alexandra, Demidova e o cozinheiro Kharitonov.

“Tendo em vista o fato de que seus parentes continuam a atacar a Rússia Soviética, o Comitê Executivo do Ural decidiu executá-los.”

O que se seguiu foi o assassinato de Nicolau, Alexandra, seus filhos e funcionários. Alguns morreram na hora, outros foram mortos com mais brutalidade e perda de controle por parte dos carrascos. Vendo que a execução não tinha saído como planejado, Yurovsky se apressou a dar fim nos corpos. Desfigurados, despidos e roubados (as grã-duquesas haviam costurado suas jóias dentro dos corpetes), os mortos foram jogados na mina mais profunda na área conhecida como Quatro Irmãos e detonaram a entrada da mina com bombas.
Quando Yurovsky voltou a Ekaterinburg, encontrou a cidade fervilhando de comentários sobre o assunto. Com o Exército Branco se aproximando, decidiu que precisava enterrar os corpos em um novo local. Retirar os corpos da mina, escolher um novo local e dar um sumiço mais permanente nos corpos levou todo o dia 18 de julho até que na madrugada do dia seguinte:

o veículo ficou definitivamente atolado. Já que não chegaríamos até as minas profundas, só podíamos enterrá-los ou queimá-los. Queríamos queimar Alexei e Alexandra Feodorovna, mas, por engano, em vez dela queimamos sua dama [Demidova] e Alexei. Enterramos os restos ali mesmo, sob a fogueira, jogamos pás de argila por cima dos restos, acendemos outra fogueira no local e espalhamos as cinzas e brasas, a fim de cobrir totalmente os vestígios da cova. Enquanto isso uma vala comum era cavada para os outros. Por volta das sete da manhã, outra cova de dois metros de profundidade com dois e meio metros quadrados estava pronta. Os corpos foram colocados no buraco e ensopados fartamente com ácido sulfúrico de modo a não serem reconhecidos e impedir qualquer odor de decomposição. Enchemos de galhos e de cal, cobrimos com madeira e passamos o caminhão por cima diversas vezes – até não restar vestígio do buraco. O segredo foi bem guardado – os Brancos não encontraram o local do sepultamento.

Em 1919, um investigador jurídico descobre resquícios de objetos pessoais da família e ossos calcinados durante uma escavação nos Quatro Irmãos, mas dada a situação no país, Sokolov só publica seus achados em 1924, no livro Inquérito judicial sobre o assassinato da família imperial russa, que se torna um relato oficial do assassinato da família imperial e obriga o governo soviético a mudar a história sobre o destino da imperatriz e seus filhos, que ainda eram acreditados como vivos, mas escondidos. A partir daí, se sucedem investigações em busca dos ossos e exames para reconhecer e enfim dar um destino digno aos restos mortais dos últimos Romanov.

Publicado em 1968, The Sokolov investigation, de autoria de John F. O'Connor, traduz do russo partes do livro de Sokolov, Inquérito judicial sobre o assassinato da familia imperial russa.

A primeira coisa que devo dizer sobre esse livro é que: os nomes mais importantes nele não são de Nicolau ou Alexandra ou de suas filhas e seu filho, mas sim dos investigadores que descobriram, analisaram e escreveram sobre a descoberta e reconhecimento dos corpos encontrados em uma cova secreta em Ekaterinburg. São eles:

-Nikolai Sokolov, investigador jurídico que iniciou em janeiro de 1919 uma investigação sobre o paradeiro da família real com a permissão do “Chefe Supremo” do Governo Branco da Sibéria;
-Alexander Avdonin,e Geli Ryabov, ambos interessados na “mistério” da morte dos Romanov que descobrem a cova onde os corpos foram enterrados e encontram alguns crânios;
-Sergei Abramov, cuja equipe conseguiu identificar sem DNA os mortos, com exceção de Maria e Alexei, cujos esqueletos faltavam;
-William Marples, criador do Laboratório de Identificação Humana da Universidade da Flórida, cuja equipe também examina os esqueletos e constata que quem falta é Anastásia, ao invés de Maria;
-Peter Gill, responsável pelos testes de DNA que identificaram os esqueletos com mais precisão.

Robert K. Massie faz um excelente relato sobre o assassinato dos Romanov, a descoberta dos restos mortais e a investigação em busca da confirmação das mortes. Ele mostra que Moscou não somente sabia do assassinato da família inteira, mas aprovava e também ocultou informações sobre o assunto do resto do mundo. Ele não somente cita os primeiros investigadores que descobriram a cova e as ossadas em 1979, Avdonin,e Ryabov, mas relata o processo da descoberta, o pacto que fizeram de não mencionar nada e mais tarde, a quebra desse pacto. Ele faz um apanhado da história soviética e como as mudanças políticas permitiram que fossem feitas investigações mais profundas para se encontrar todos os esqueletos e se reconhecer as pessoas a quem eles pertenciam.

Casa de Ipatiev, onde a Nicolau e sua família ficou de abril a julho de 1918 e onde foram assassinados. A casa foi destruída em 27 de julho de 1977, depois que o lugar havia se transformado em um local de peregrinação.

Achei essa parte a mais interessante (e um pouco macabra, dado o relato do estado dos ossos) do livro por conta da descrição completamente detalhada que Massie faz. Ele fala da confusão entre Abramov e Marples e suas discordâncias sobre os esqueletos faltantes. Gostei da abordagem objetiva sobre as implicações políticas, e mais importantes, familiares de levar os ossos dos Romanov para um laboratório forense em Aldermanston, na Inglaterra, por conta de testes de DNA para se identificar as pessoas a quem os esqueletos pertenciam.
Foi bom ver que ele abordou outras questões: o que houve com a Casa de Ipatiev, as reações do povo de Ekaterinburg e a posição da Igreja Ortodoxa Russa:

Paralisada por 75 anos de submissão ao Estado ateu, a Igreja Ortodoxa Russa ainda peleja para achar um meio de lidar com a execução dos Romanov. Se morreram como mártires, deveriam ser canonizados como santos – como de fato foram pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, em 1981. Ainda que Nicolau e sua família não fossem considerados vítimas de martírio e merecedores de canonização, mas simplesmente vítimas de um assassinato político, a igreja se sentia na obrigação de levar em conta sua morte violenta. (Mesmo não tendo considerado o assassinato do czar Alexandre II, em São Petersburgo, em 1881, um martírio, a Igreja Ortodoxa Russa construiu no local a Catedral do Sangue para perpetuar a memória do czar.) 
Mesmo antes da exumação dos esqueletos de Ekaterinburg, o arcebispo local queria erguer uma igreja memorial na área da Casa de Ipatiev. “Este é o lugar onde começou o sofrimento do povo russo”, afirmou o arcebispo Melkhisedek. A igreja seria chamada Catedral do Sangue Derramado para “simbolizar a penitência da sociedade e expurgar as ilegalidades e as repressões desmedidas que foram infligidas durante os anos do bolchevismo”.[...]

Um assunto sobre o qual Massie se debruça é a questão da briga entre Moscou e Ekaterinburg pelo controle dos ossos dos Romanov, e o papel de Vladmiri Soloviev, um procurador-criminologista que tratou a investigação como processo criminal, e passou a querer tanto a determinação final sobre as identidades dos restos mortais quanto ao paradeiro das duas crianças que faltavam. O autor dedica a segunda parte do livro para falar dos impostores que surgiram alegando serem as crianças desaparecidas, sendo a mais famosa impostora Anna Anderson ou Franziska Schanzkowska (dentre outros nomes).
De muitas formas, esse livro acabou sendo bem diferente do que eu esperava. Ganhei ele ano passado num sorteio deste desafio, e o engraçado é que quando coloquei ele na estante do skoob, achei que seria mais uma biografia sobre os Romanov. Acabei com o relato sobre todos os passos da investigação para se descobrir os restos mortais da família, o que foi muito mais interessante. Essa minha resenha acabou ficando enorme justamente por causa disso, é tanta informação, tanto detalhe que me deu vontade escrever e escrever mais para fazer com que todo mundo tenha vontade de ler. Um dos melhores livros que li esse ano, completamente indicado.

7 de dez. de 2020

Nêmesis (Agatha Christie) – DLL 2020


Título: Nêmesis
Autora: Agatha Christie
Mês: Dezembro
Tema: Um livro de capa verde
Editora Nova Fronteira, 264p.

Miss Marple e Jason Rafiel se conheceram há um tempo atrás, quando ele a ajudara a evitar uma tragédia numa viagem ao Caribe. Então, é com surpresa que ela descobre que ele deixou para ela em testamento uma quantia significativa de dinheiro caso ela consiga resolver um mistério. Só que ele não forneceu nenhuma informação sobre o crime ou da vítima ou do assassino. De início, Miss Marple acredita estar sendo vítima de uma brincadeira sem graça, mas depois ela recebe uma excursão paga por alguns lugares da Inglaterra que mais tarde ela descobre estarem ligados ao mistério que ela deve resolver. No meio do caminho, um acidente (premeditado? Ou crime?) acontece e a partir daí, o assunto começa a ficar mais claro para a senhora...

Esse foi um dos romances de Agatha Christie que realmente me pegou de jeito. Às vezes, parecia que o culpado estava bem claro, outras não, mas diferente dos outros onde eu conseguia ter uma noção vaga do real assassino, desta vez fui pega de surpresa. Li em um dia justamente porque não consegui parar até descobrir o que estava por trás da motivação do crime. Desnecessário dizer que valeu cada minuto da leitura.