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27 de mai. de 2019

198 livros: POLÔNIA – A lista de Schindler (Mietek Pemper)

Se Schindler não tivesse comprado a empresa processadora de metal, a "lista de Schindler" não teria sido possível.


Muito se fala da famosa lista de Schindler, que salvou mais de mil judeus de morrerem em campos de concentração nazista. Do que poucas pessoas falam ou sabem é do judeu “infiltrado” no escritório do temido Amon Göth que ajudou não só a redigir as listas (sim, foram mais de uma, e os judeus cujos nomes presentes nelas não foram escolhidos da forma como o filme de Steven Spielberg mostra) mas participou muito ativamente de todos os momentos de suas redações.
Mietek Pemper tinha 23 anos quando foi feito prisioneiro no campo de trabalho forçado e depois campo de concentração de Krakau-Plaszow. Ao serem descobertas suas habilidades como estenógrafo, ele passou a trabalhar diretamente com Amon Göth, vivendo o terror de saber que não sairia daquela situação com vida por saber demais. Além de ajudar Schindler a elaborar as listas que salvaram mais de 1200 judeus da morte certa, ele acaba descobrindo sobre as operações dos nazistas e sobre o andamento da guerra.
Ao aprender a reconhecer os humores de Göth, ele conseguia ajudar as pessoas no campo e até mesmo a salvar algumas; seu trabalho bem executado o levava a receber certos “agrados” (como a permissão de não precisar usar os uniformes que o destacariam como um dos homens do serviço de ordem, os judeus que se prejudicavam mutuamente na esperança de sairem vivos); ao ler os relatórios, ele descobria quais campos continuariam funcionando e quais seriam transferidos, e foi assim que descobriu que somente os campos de trabalho cuja produção fosse “decisivo para a vitória”. E assim foi dado o pontapé inicial para a redação das listas que salvaram muitos judeus e imortalizaram Schindler como salvador desse povo.

Hoje, é impossível mensurar os riscos que Schindler correu durante anos para nos ajudar. Assim, ele e eu, cada um no âmbito de suas possibilidades muito diferentes, conseguimos algo praticamente impossível: o campo de trabalhos forçados de Cracóvia-Płaszów, no qual por volta de oitenta por cento das empresas eram produções de costura e têxteis, não foi dissolvido prematuramente no final de 1943, mas preservado. No fim do outono de 1944, Schindler deu um golpe de mestre: conseguiu transferir todo seu pesado parque de máquinas e mil de seus trabalhadores judeus para Brünnlitz. Lá, nos deparamos com mais judeus de outros campos e prisões, que foram igualmente acolhidos por Schindler. A cada admissão, a lista dos detentos tinha de ser complementada com folhas adicionais. Essa lista, então, recebia a respectiva data e seguia para o campo de concentração matriz, de Gross Rosen, porque, de acordo com ela, se calculavam as tarifas diárias que Schindler tinha de pagar por cada trabalhador declarado para a Central de Administração Econômica da SS. Schindler protegeu e salvou não apenas os judeus de Płaszów, mas também aqueles que apareceram em Brünnlitz no inverno de 1944-1945 e que, sem ele, teriam morrido. Assim, a cifra final foi de mil e duzentos detentos. Toda a ação salvadora ficou conhecida como a “lista de Schindler”, apesar de não se poder falar de uma única lista, mas de várias que se referiam reciprocamente.

Muitas vezes neste livro Mietek Pemper fala de Oskar Schindler como um grande homem, dos riscos que ele correu em suas tentativas de salvar quantos judeus pudesse. Enquanto eu lia este livro, eu pensava “Mas e você mesmo, Mietek? Como você não pode ver a sua própria coragem e o seu próprio valor, enquanto fica tão perto do inimigo?” Porque é exatamente isso que acontece. Essa foi uma das perguntas que ele ouviu muito durante o tempo em que falava com as pessoas sobre a guerra:

“Como o senhor conseguiu suportar a pressão psicológica de trabalhar durante tanto tempo em contato tão próximo com Göth?”

E a resposta clara:

Nenhum outro detento deveria ser obrigado a correr o mesmo perigo diário que eu tinha de suportar. [...] Tudo o que podia fazer era atrasar o máximo possível a execução de minha sentença de morte, no interesse de meus familiares.


Mietek é escolhido para trabalhar diretamente com Göth por suas habilidades de escrivão (que ele deve ter considerado uma maldição, até perceber que podia usar em proveito próprio dessa condição), e isso também o leva a conhecer Oskar Schindler. Através de conversas sussurradas e escondidas, eles conseguem elaborar uma lista para salvar os judeus que pudessem, sem que Göth desconfiasse disso. A sua situação dúbia fica evidente quando Mietek descreve que o nazista matava a bel prazer, portanto, mesmo tendo conhecimento de muitas coisas que nenhum judeu deveria saber sobre a guerra, ele também corria um perigo indescritível. O mais interessante é ver no seu relato um homem desinteressado, cujo único objetivo era continuar vivo e manter vivo quantas pessoas fosse capaz. 
Uma coisa que eu sempre pensei que seria imediata: todo mundo saberia do papel de Schindler na salvação dos judeus, mas não foi assim que aconteceu. Somente algum tempo depois, e apesar da divulgação das pessoas salvas, que se teve uma dimensão do papel dele na guerra. Foi encontrada uma maleta com fotos e documentos de Schindler, incluindo algumas versões das listas na Alemanha. Quando de sua descoberta, Emilie Schindler tentou adquirir a posse do material legalmente, mas a Yad Vashem (organização encarregada por lei de conservar e estudar todos os documentos relacionados à história do Holocausto) já tinha sua posse.
A melhor parte do livro é quando ele descreve os julgamentos dos nazistas, em que por mais que os prisioneiros tentassem se safar de alguma acusação, Mietek sempre estava pronto pra comprovar o que eles negavam, causando até mesmo surpresa neles, pois como um judeu poderia saber de segredos que só o comando deveria conhecer? Esse livro é uma preciosidade, vale cada minuto de leitura.

Editora Geração Editorial.
277 páginas.

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