Ishmael Beah é um garoto que vive com sua família em Serra Leoa. Ele adorava hip hop e Shakespeare, mas sua vida muda completamente quando rebeldes invadem sua aldeia. Beah consegue escapar e agora, longe de sua família, é aliciado pelo exército do governo para lutar contra aqueles que destruíram sua aldeia e sua vida.
Outra biografia com um relato fortíssimo sobre guerra, perdas e destruição. Quando eu resolvi participar desse desafio, não achei que fosse encontrar tantos livros com histórias tão envolventes. E só estou no segundo mês! Escrito quando Baeh tinha somente 25 anos, o livro mostra sua vida enquanto vivia fugindo, esfomeado e tentando sobreviver, sua experiência como soldado e sua redenção, até se tornar porta-voz da Serra Leoa numa conferência da ONU. Apesar da própria temática do livro ser tudo menos leve, Baeh consegue expor com clareza seus traumas do passado.
Quando chegamos ao final da fila, havia quatro homens deitados no chão, e seus olhos estavam bem abertos e parados; suas tripas estavam espalhadas pela terra. Eu me virei, e meus olhos se depararam com a cabeça esmagada de um outro homem. Algo dentro da cabeça dele ainda pulsava e ele estava respirando. Senti náuseas. Tudo começou a girar à minha volta. Um dos soldados me observava, mastigando alguma coisa e sorrindo. Ele tomou um gole de água e jogou o resto que havia na garrafa no meu rosto.
– Você vai acabar se acostumando, todo mundo se acostuma – ele disse.
Um fato interessante (e o que eu mais gostei, diga-se de passagem): com seu relato, Ishmael Beah desfaz todo esse mito romântico da guerra e de heroísmo associado a ela. Ele não utiliza poesia, não faz rodeios nem banaliza a guerra, simplesmente fala das consequências de uma para os envolvidos. Um livro ótimo, que eu tive que parar, respirar, e voltar a ler, várias vezes. Recomendo.
Editora Companhia de Bolso.
264 páginas.