Eu já havia postado algumas traduções artigos de uma webzine chamada
Costume Chronicles, de uma blogueira chamada Charity Bishop. Pois bem, a Costume Chronicles agora tem outro nome,
Femnista. Lendo os números lançados até agora, descobri vários artigos legais e quero começar a partilhar aqui.
O primeiro deles, que aborda Norte e Sul, foi publicado na edição de Maio-Junho de 2011.
Culpas e tolices: descobrindo Norte e Sul (Faults & folies: discovering North & South)
Autora (Author): Hannah Kingsley
Eu adoro ler clássicos, e uma das minhas autoras clássicas favoritas é Jane Austen. Em seus livros, acreditava ter encontrado a perfeição literária: diálogos espirituosos entre os personagens, descrições de cenários e enredos simples, no entanto profundos estão presentes em seus livros. Eu tinha lido quase todo o seu “cânone”, como eu ouvi uma vez chamarem, incluindo suas obras mais populares. Considerava-o como uma espécie de paraíso literário. Até o momento em que eu tropecei na saga de Norte e Sul e meu mundo mudou, por assim dizer.
A primeira vez que conheci a história foi através da minissérie da BBC. O elenco é bom, mostra uma cinematografia bonita e figurinos lindos, assim como uma trilha sonora comovente. Está centrado na Inglaterra industrial, assim como o nome sugere, nas regiões norte e sul. A história mostra o nível dos conflitos sociais e assuntos da classe trabalhadora na Inglaterra da época, ainda assim detalhando o que poderia ser chamada de uma das melhores histórias de amor ficcionais jamais contadas. Não demorou muito para que eu ficasse cativada pela história, Logo após ver a série no Netfix eu comprei uma cópia do DVD e quase imediatamente depois comprei o livro. Após muitas horas gastas em bancos em recantos no campus da minha faculdade, terminei a leitura e continuei maravilhada pela profundidade da qualidade da narração da história encontrada. Em seguida, eu vou tentar explicar claramente sem ser muito específica sobre o enredo, pois eu acho que a história deve ser experimentada (seja no livro ou no filme) com seu maravilhoso senso de mistério intacto.
Nunca pensei que Jane Austen seria desafiada em minha mente como uma das maiores escritoras clássicas da literatura, ainda assim Elizabeth Cleighorn Gaskell, autora de Norte e Sul, talvez tenha mais direito a esse título. Jane Austen disse ter sido criticada em sua própria experiência como autora, dizendo que ela tinha pouco direito de ser uma escritora por causa de sua falta de experiência de vida. Gaskell, por outro lado, casou em um momento de sua vida e teve uma larga experiência de vida. Por exemplo, uma coisa que achei interessante sobre o livro é que a história permite a revelação das perspectivas dos personagens masculino e feminino em diferentes momentos quando é apropriado. Isto é algo que nunca encontrei, ou ao menos não no mesmo nível, na obra de Austen. Isto traz uma nova dimensão ao romance típico do século XIX e dá ao leitor um vislumbre maior de como era a vida durante essa época. Um exemplo disso é demonstrado no estilo de vida dos trabalhadores do moinho, e aprendemos como greves afetavam os donos das usinas de algodão e seus empregados.
A experiência de vida mais ampla de Gaskell talvez tenha sido o fator que tenha permitido ao seu livro explorar um terreno social mais amplo, da extrema pobreza aos aristocratas orgulhosos. Gaskell transporta o leitor para um mundo em ritmo acelerado e lutas lentas, onde todos se esforçam por um motivo ou outro. Geralmente isso aparece na forma de funcionários confrontados pelos patrões ou novos pensamentos marcados contra tradição. Nós percebemos o senso de humanidade partilhada por todos e as relações entre as pessoas. Ao contrário de Austen, Gaskell parece ter uma escrita mais séria do que espirituosa. Em ambos o livro e a série da BBC, sua seriedade abrangente pode ser apreciada quase mais do que o estilo de escrita com um tom de gozação humorado por causa da profundidade que ela traz a sua história.
Além da seriedade e do olho para a estrutura social incluída na história, a profundidade dos personagens em Norte e Sul é incomum. Eu tenho lido muitos livros escritos nos séculos XVIII e XIX e muitos deles tendem a fazer com que o leitor assuma que os personagens nos romances têm ao menos uma fé cristã e freqüentam a igreja, incluindo temas morais, no entanto, este romance estabelece um novo padrão para inclusão flagrante do Cristianismo. Isto não aparece tão claramente na série, mas está de alguma forma presente. No livro, Gaskell fornece detalhes sobre orações, fé, as dificuldades e diferenças de opiniões que membros do primeiro clero encaram, e um forte senso de consciência sobre os erros dos outros; o prazer do correto está claro ao longo do livro. Isto é algo que deixa você conhecer muito mais o funcionamento mais profundo de cada personagem do que a maioria dos romances do século XIX.
Os personagens de Gaskell são loucos e cheios de defeitos, mas também tem o desejo forte de fazer o bem. Orgulho e preconceitos não estão presentes somente nas obras de Austen, mas com um novo e talvez mais significativo potencial. Os personagens de Gaskell possuem uma força gentil e determinação que de alguma forma parece incomum. Eles servem não só como inspiração para a imaginação do leitor, mas também para mover seu coração. Eles parecem desfiar sua integridade, como um amigo confiável, ou oferecer conselhos que consideram íntegros acima das circunstâncias. Ou talvez eu seja a única que nutra amizade com personagens ficcionais do século XIX.